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Carlos Alcaraz, o adolescente imparável, vence terceiro título num Masters 1000 e volta ao número um mundial

Após um início de ano difícil, com lesões e a não participação no Open da Austrália, o prodígio espanhol venceu Indian Wells, o chamado quinto Grand Slam, ao arrasar Daniil Medvedev na final por 6-3 e 6-2. Apenas Rafael Nadal venceu tantos Masters enquanto adolescente

Lídia Paralta Gomes

Julian Finney/Getty

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É difícil travar o ímpeto de alguém com 19 anos e Carlos Alcaraz, que nem é o nosso rapaz de 19 anos comum, aprendeu-o de forma algo dolorosa. Tinha o ano de 2023 apenas alguns dias quando o miúdo de Múrcia, experiência orgânica e não científica que junta em si talvez o melhor que já se viu num court de ténis, anunciou nas redes sociais que, num movimento “fortuito e forçado” num treino, tinha dado cabo de um músculo da perna direita. O Open da Austrália, para ele, morreu ali. Meses depois de ter conseguido o seu primeiro título num torneio do Grand Slam, no US Open, o espanhol percebia, e dava-nos a perceber, que ainda há algo que o pode parar e esse algo é a gestão do seu corpo.

Falhado o primeiro objetivo da temporada e perdido o número um mundial - ele que havia sido o mais jovem de sempre a lá chegar - era preciso paciência. E Alcaraz, que para lá do óbvio jeito para pegar na raqueta e desferir impressionantes pancadas também parece um jovem inteligente, teve a humildade de esperar pelo próximo grande feito. Que não é um torneio do Grand Slam, mas anda lá perto. De Indian Wells diz-se que é o quinto Grand Slam, uma espécie de Stuart Sutcliffe, que ainda fez parte dos Beatles nos primeiros anos, mas em ténis. Para lá dos quatro principais torneios, é este que os tenistas esperam ganhar, ali naquela terriola algures no deserto sul-californiano, rodeados de reservas e de campos de golfe. Alcaraz fê-lo com aparente à-vontade, batendo consecutivamente Félix Auger-Aliassime nos quartos de final, Jannik Sinner nas meias-finais e, na noite de domingo, Daniil Medvedev no encontro decisivo.

Frente ao russo, que vinha de 19 vitórias seguidas, houve Carlos Alcaraz vintage, isso se podemos chamar vintage ao jogo de um ainda adolescente. Aproveitando a dificuldade que Medvedev teve ao longo da semana de colocar velocidade na bola nos courts de Indian Wells - que valeu momentos daquela curiosa e bem-humorada fúria que só o moscovita parece conseguir juntar -, Alcaraz subiu o nível do seu jogo e atacou o rival de todas as maneiras e feitios, assumindo os ritmos da partida e aplicando a variabilidade de recursos que tem e ousa em mostrar em tão tenra idade. Foi ele que acelerou quando foi preciso acelerar, foi ele que arriscou nas pancadas certas. Num dos jogos do segundo set, aplicou três amorties bem-sucedidos ao russo.

Julian Finney

Medvedev pareceu de mãos amarradas e assumiu a clara derrota por 6-3 e 6-2 de forma mais que graciosa no final. Alcaraz, disse ainda, para lá do torneio quase irrepreensível, é ainda “o tipo mais bem-educado” do circuito. “Cumprimentas umas 300 pessoas por dia”, atirou. O óbvio crescimento de popularidade do espanhol, que teve o público claramente a seu favor, deliciado pelo espectáculo que ele oferece, não vai fazer diminuir o nível de solicitações.

Carlos Alcaraz venceu Indian Wells sem perder qualquer set e aos 19 anos conquista o terceiro Masters 1000 da carreira. Só Rafael Nadal fez melhor, conquistando seis títulos desta categoria ainda adolescente. É também o mais jovem de sempre a reunir o chamado Sunshine Double, que junta os Masters de Indian Wells e Miami, jogados em semanas seguidas - Alcaraz venceu Miami há um ano, juntando-lhe ainda Madrid semanas depois.

Mais importante, o espanhol está de regresso ao topo do ranking mundial, deixando para trás o difícil início do ano. “Significa muito, era um dos meus objetivos”, disse depois do encontro, ao Tennis Channel. “Foi mais fácil sem ter cá o Djokovic [impedido de entrar nos Estados Unidos por não estar vacinado], mas ir para Miami como número um dá-me muita confiança”, continuou, revelando ainda que depois do título em Buenos Aires e da final no Rio Open voltou a lesionar-se na perna e que foi difícil manter-se forte mentalmente. “Mas trabalhei duro com a minha equipa”, sublinhou.

Para já, Carlos Alcaraz vai dourar os louros da vitória em Indian Wells e tirar alguns dias de folga em Miami com o irmão e alguns amigos. “Vou tentar relaxar e lá para quarta volto a treinar para me adaptar às condições”, apontou. Até porque para manter o número um mundial, Alcaraz só tem um caminho: vencer em Miami, onde defende os 1000 pontos conquistados há um ano.