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Tal como há um ano, Rublev volta a posicionar-se contra a guerra: “É horrível. É uma loucura que tantos cidadãos estejam a sofrer, a morrer”

O moscovita, o número 6 do ranking ATP, repete a classificação para a final do Dubai Tennis Championship, tal como há 12 meses, altura em que escreveu na lente de uma câmara “no war please”. Desta vez, depois de superar Alexander Zverev na semifinal do torneio, o russo homenageou um artista soviético e repetiu a mensagem anti-guerra: "Não podemos agir como se nada estivesse a acontecer"

Hugo Tavares da Silva

Francois Nel

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Basta bater umas teclas para descobrir muita coisa sobre Andrey Rublev. Por exemplo: a alcunha é Rubl, começou a jogar ténis com três anos e até dormia com a raquete às vezes. Fala russo, inglês e espanhol. O pai foi pugilista, a mãe uma treinadora de ténis. Cresceu a admirar Marat Safin e Rafael Nadal. Gosta de boxe, música e basquetebol, uma paixão que o leva a apoiar os Golden State Warriors.

Batendo mais teclas, descobrem-se mais coisas. O tenista, nascido em Moscovo, em outubro de 1997, apurou-se para a final do Dubai Tennis Championship, eliminando Alexander Zverev e marcou encontro para a final do torneio, este sábado, contra Daniil Medvedev, o carrasco de Novak Djokovic.

Admirável por parte de Rublev (n.º 6 no ranking ATP), de 25 anos, é o facto de repetir a presença no derradeiro jogo daquele torneio, algo que fizera no ano passado, um dia depois de Vladimir Putin ter dado luz verde para avançar a invasão do exército russo na Ucrânia. Na altura, Rubl escreveu na lente de uma das câmaras de filmar “no war please”. Na praça pública falou-se em coragem.

“No início, antes de escrever isso, estava a receber muitas mensagens más quando tudo isto começou”, admitiu na ressaca do apuramento para a final há pouco mais de 12 meses. “Não pensei em quantas pessoas iam ver ou até onde chegaria [a mensagem], escrevi o que sentia no momento. É isso. Fui um dos primeiros desportistas a dizer isso. As mensagens que comecei a receber foram quase todas positivas, a agradecer e coisas assim.”

Volvido um ano, Andrey Rublev voltou a qualificar-se para a final do torneio no Dubai, repetindo a mensagem contra a guerra que vai assolando os ucranianos. “Não podemos agir como se nada estivesse a acontecer”, começou por dizer, na sexta-feira, depois de superar Zverev. “É horrível. É uma loucura que tantos meros cidadãos estejam a sofrer, a morrer. A única coisa que desejo é que brevemente haja paz em todo o país.”

Desta vez, na lente da câmara que atira imagens para as televisões o conteúdo não foi de natureza belicista, mas sim artística (e de esperança): “Tsoi is alive”. Isto é, Viktor Tsoi, a estrela de rock soviética de tempos idos, está vivo. Rublev voltou a explicar: “A voz dela era realmente poderosa. Aqueles não eram tempos fáceis. As letras [das músicas] que ele escrevia deu muita esperança às pessoas naquele momento. Escrevi isso porque sinto que agora, nesta altura, estão a acontecer coisas semelhantes”.

Apesar do posicionamento público, Andrey Rublev foi impedido de participar no torneio de Wimbledon em 2022, na sequência das sanções a russos devido à invasão da Ucrânia, um cenário que ainda não está claro esta temporada.