Na última semana, Nick Kyrgios nem parecia um dos tenistas mais polémicos e controversos do mundo. Por um lado porque está na Austrália, onde o facto de jogar em casa lhe dá todas as vantagens do favoritismo, e por outro porque protagonizou um jogo solidário bastante animado ao lado de Novak Djokovic, com quem em tempos já trocou palavras menos amigáveis. Parecia um novo começo, em todos os aspetos, para o jogador. Mas quando se fala de Nick Kyrgios tem que se esperar que tudo possa acontecer.
Desta vez, foi o azar que lhe bateu à porta.
“Consegues aguentar sete jogos contra estes tipos?”, perguntou o fisioterapeuta Will Maher a Kyrgios, segundo o jornal australiano ‘The Age’.
“Não, não consigo”, respondeu o tenista.
Com esta resposta, Kyrgios colocou um fim na sua participação no Open da Austrália de 2023 mesmo antes do início do torneio. Uma lesão no joelho leva o tenista a juntar-se a nomes como Carlos Alcaraz, Paula Badosa, Naomi Osaka e Ajla Tomljanovic na lista de ausências em Melbourne.
Depois de ter estado muito perto de terminar a época de 2021 fora do top 100 do ranking ATP, o australiano conseguiu recuperar e protagonizar bons momentos em dois torneios do Grand Slam no ano passado. Poder-se-ia considerar que estava entre os favoritos para chegar longe no Open da Austrália, onde ganhou o título de pares masculino no ano passado com Thanasi Kokkinakis. O outro torneio onde brilhou em 2022 foi o de Wimbledon, onde só Djokovic o conseguiu parar na final. A expetativa do australiano passava por conseguir a vingança já no primeiro major do ano.
“Preciso da vingança de Wimbledon, não vou mentir, não durmo desde então. Vamos ver como corre”, confessou antes do jogo solidário frente ao sérvio.
Kyrgios poderia até ter jogado o torneio, mas dificilmente a lesão lhe iria permitir ganhá-lo. Vencer era o seu único objetivo. Durante o jogo solidário da passada sexta-feira, o tenista confessou que caso conseguisse vencer o Open da Austrália, o próximo passo na sua carreira seria a reforma. “Entrar no court simplesmente não era suficiente para ele”, afirmou o fisioterapeuta.
James D. Morgan
“Há obviamente uma mistura de emoções. Acho que depois do US Open fui extremamente duro comigo, depois dessa derrota nos quartos de final. Obviamente que a partir desse dia só tinha o Open da Austrália na minha mente. Sempre quis fazer tudo bem, treinar bem e estar pronto para o Open da Austrália. Mas a vida é assim. As lesões fazem parte do desporto. Acho que me posso inspirar em alguém como o Thanasi, que teve um monte de lesões e recuperou”, disse o jogador.
Com o Open da Austrália descartado e Roland Garros ainda em dúvida - Kyrgios já o descreveu o torneio como o pior do calendário, defendendo que deveria ser eliminado -, é possível que a próxima hipótese de vencer um Grand Slam surja apenas em Wimbledon, em julho.
Sendo assim, a próxima aparição pública do tenista talvez seja à porta do tribunal. Em fevereiro, Kyrgios terá que responder por alegados maus tratos à sua ex-namorada, um tema que se tornou público durante o torneio de Wimbledon. De acordo com os advogados do jogador, a defesa será montada em volta da saúde mental, citando o seu histórico de depressão e abuso de substâncias. Caso a defesa seja bem sucedida, é provável que a sentença passe por um plano de tratamentos. O australiano já assumiu publicamente os seus problemas de saúde mental, mas também considera que já os tem controlados.
Do lado do ténis, a sua falta de controlo já ficou clara diversas vezes. Como quando foi visto num bar na noite anterior ao jogo contra Nadal, em Wimbledon (2019), que acabou por perder, ou quando acertou com uma bola num adversário e disse que foi exatamente isso que tentou fazer. Além das discussões com adeptos, gritos ou raquetes partidas.
Por contraste, contudo, em anos mais recentes foi muitas vezes a voz da razão. Durante o período de confinamento na pandemia de covid-19 foi um dos que criticou os tenistas que continuaram a participar em festas. Também defendeu a não realização do US Open de 2020, não só por causa da pandemia, mas também devido às manifestações contra o racismo.
“O ATP está a tentar avançar com a realização do US Open. Egoísta com tudo o que se está a passar neste momento. Obviamente a covid-19, mas também com os protestos, juntos precisamos de ultrapassar estes desafios antes do regresso do ténis, na minha opinião”, escreveu no Twitter.
O que tem de bom deu-lhe uma legião de adeptos espalhados pelo mundo, principalmente na Austrália. O que tem de mau coloca muitos a verem os seus jogos, mesmo que seja pela expectativa de ver o que poderá acontecer. Ninguém fica indiferente a Nick Kyrgios, mas, este ano, o Open da Austrália terá que ficar.