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De “vais ser a número 1” a “deixa o ténis”: Paula Badosa foi mais uma atleta a expor os comentários que recebe nas redes sociais

Sendo que agora se faz tudo atrás de um monitor do computador ou ecrã de telemóvel e, muitas vezes, de forma anónima, tornou-se cada vez mais comum a partilha de comentários negativos e insultuosos, dirigidos seja a quem for. Os atletas não são imunes a isso e muitos já optam por responder de forma pública para colocar a responsabilidade do lado de quem escolhe ser abusivo

Rita Meireles

Gonzalo Arroyo Moreno/Getty

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As críticas online são tão frequentes na vida de um atleta como treinar. Lidar com tudo isso pode ser um desafio bastante grande, principalmente quando o que chega do outro lado do ecrã é tão inesperado e, muitas vezes, se transforma num insulto do dia para a noite. A tenista Paula Badosa foi a última desportista a demonstrar até onde algumas pessoas vão no trato digital.

Numa demonstração do quão instável é o apoio que os atletas recebem, a espanhola publicou duas imagens onde se vê a mudança total nos comentários de um seguidor. O que começou com “ficou claro para mim desde o início que ias ser a campeã e que serias a número 1 do mundo" ou “não vai demorar muito até ser o número 1. Enorme, Paula”, depressa mudou de tom.

“Deixa o ténis, por favor” e “reforma-te já” são as mensagens que, mais tarde, recebeu exatamente da mesma pessoa. Ao publicar as capturas de ecrã no seu Instagram, Badosa quis mostrar às pessoas como a mudança de atitude dos seguidores é radical - e o tipo de comentários que os atletas têm que suportar quando os resultados não são os desejados pelos adeptos.

“A mesma pessoa. O que se passa nas vossas cabeças?”, questionou Badosa. A tenista aproveitou o momento para agradecer àqueles que a “animam sempre”: "Vou continuar o meu caminho e a trabalhar". Atualmente em terceiro lugar do ranking WTA, dos 48 jogos que disputou nesta temporada, venceu 30.

No ano passado, a World Athletics quis entender o nível de abuso online dirigido aos atletas e realizou um estudo durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, avaliando as mensagens enviadas a uma amostra de 161 perfis do Twitter de atletas no ativo ou não, começando uma semana antes da cerimónia de abertura olímpica e terminando no dia seguinte à cerimónia de encerramento: 23 dos 161 atletas receberam comentários abusivos. Desse grupo afetado, 16 eram mulheres. Ou seja, as atletas receberam 87% de todos os abusos.

Outro momento recente que ficou marcado pelos comentários negativos foi o dia em que a jogadora da WNBA, Brittney Griner, foi condenada a nove anos de prisão, na Rússia. Impedida de ver ou responder a quem quer que seja, foi a colega Brianna Turner quem a defendeu.

"Não tenho a capacidade de responder a todas as mensagens de ódio sobre a Brittney Griner. Acho que é fácil estar por fora e desejar o pior. É fácil não conhecer todos os factos. É fácil espalhar o ódio nas redes sociais. Mesmo antes de ser detida na Rússia, ela recebia ódio de trolls porque não gostavam da sua aparência. No entanto, ela mantinha a cabeça erguida. Adorava responder individualmente e aniquilar todos os pontos de vista negativos que recebia. Com todo o respeito, arranjem uma vida", lê-se nas suas redes sociais.

Kevin Durant é outro atleta que não deixa ninguém sem resposta. Para o bem ou para o mal. Pouco tempo depois de se saber que o jogador da NBA pretendia trocar de clube novamente, um utilizador do Twitter escreveu sobre um dia que lhe estava a correr menos bem, depois de uma avaria no carro, de chegar atrasado ao trabalho e estar com uma conexão à internet fraca. “Ao contrário de Durant, gosto de seguir o caminho mais difícil. É apenas uma prática de resolução de problemas”, escreveu.

Em resposta a esta teoria de que escolhe mudar de clube para procurar a equipa que mais facilmente o leve a vencer um campeonato, Durant disse apenas: “Gostas de ter um carro mau e de chegar ao trabalho e não conseguires ligar-te à internet?”.

Outras vezes, o abuso nem sequer está relacionado com as decisões desportivas, alguma situação inesperada ou resultados de jogos. No mês passado, a jogadora de râguebi Julia Robinson denunciou uma série de comentários onde criticaram o seu corpo. Conhecida pela sua forma física e por gostar de partilhar com os seus seguidores as suas rotinas de treinos, Robinson sentiu necessidade de falar sobre o assunto publicamente.

"Nunca costumo ler os comentários das redes sociais, ou deixar que me afetem. No entanto, queria apenas dizer que ninguém deve ter vergonha ou autoconsciência de ter músculos. Demonstra dedicação e trabalho árduo. Eu adoro os meus músculos", escreveu, resumindo o que deveria ser simples e óbvio para toda a gente.