Gastão Elias tinha a bola na mão esquerda, fazia-a ressaltar no court uma, duas, três vezes, prestes a servir no primeiro de dois match points do derradeiro jogo no qualifying do US Open, em 2021. Bastava-lhe um para entrar no quadro principal, um ponto para “ganhar 80 mil dólares”, e sentiu “a mão”, sintoma dos bichinhos da mente a espalharem-se pelo corpo. O português perderia, e no domingo estava numa sala a comentar para a Eurosport a final do Grand Slam americano, onde um anormal rapaz de 19 anos servia para conquistar o torneio. E fê-lo com um ás: “Parecia que já o faz há muitos anos, que era só mais um ponto. Não consigo ter noção do que é servir para ganhar quase três milhões de dólares.”
Tão-pouco Carlos Alcaraz a tinha, imberbe de idade e aparência, com as bochechas ainda pintalgadas com resquícios de acne, mas o derradeiro míssil que fez passar por Casper Ruud, o finalista norueguês que defrontou, elevou-o ao trono hierárquico do ténis mundial, onde jamais alguém chegara tão novo — com 19 anos e 131 dias, sem tempo suficiente vivido na Terra para legalmente ir a um bar de Nova Iorque e celebrar o feito com uma cerveja. E nem há ano e meio o espanhol estava em Oeiras, a jogar um torneio Challenger, onde ganhou a Gastão Elias e o fez sentir que cada bola batida por ele “parecia entrar mais na raquete”. O português já ouvira uns zunzuns do miúdo “a beliscar” uns torneios, quando coincidiu com Alcaraz no campo “ele já estava a ficar grandote” e “batia muito forte na bola”. A força bruta imposta na raquete e a velocidade das pancadas impressionou-o, até “teve muitos serviços acima dos 210 km/h”.