É o fim das esquerdas a uma mão cuja silhueta era tão inconfundível que se tornaram marca registada, dos ataques simultaneamente suaves e assassinos aos serviços dos adversários, de um ténis infinito em recursos técnicos, de estética de usar uma raquete para bater numa bola amarela que transformou o rotineiro em aspirante a arte.
Roger Federer comunicou, através de uma publicação nas redes sociais, que irá terminar a carreira como jogador de ténis. O suíço, de 41 anos e vencedor de 20 títulos do Grand Slam, disputará os seus últimos encontros na Laver Cup, que se realizará de 23 a 25 de setembro em Londres.
“Trabalhei arduamente para regressar à minha forma competitiva plena. Mas também conheço as capacidades e limites do meu corpo e a mensagem que ele me tem dado ultimamente tem sido clara”, escreveu Federer na publicação em que diz que jogará “mais ténis no futuro”, mas “simplesmente não em torneios do Grand Slam ou no circuito” profissional da modalidade.
Natural de Basileia, onde nasceu em 1981, Roger Federer ganhou o seu primeiro major em Wimbledon, em 2003, começando uma contabilidade que só terminaria nos 20 torneios do Grand Slam. Na catedral londrina ergueria o título oito vezes, um recorde absoluto, aos quais se juntariam os seis títulos no Open da Austrália, cinco no US Open e um em Roland-Garros.
Dominador absoluto do ténis durante vários anos e, depois, rival de Novak Djokovic e Rafael Nadal, num trio que dividiu entre si a maioria dos troféus do mundo das raquetes ao longo de cerca de década e meia, nenhum outro jogador foi n.º1 do ranking ATP durante mais semanas consecutivas. Entre 2 de fevereiro de 2004 e 17 de agosto de 2008, o suíço liderou a hierarquia mundial durante 237 semanas seguidas, do total de 310 que ocupou no topo da lista, quantidade só superada pelas 373 que, no total, Novak Djokovic somou.
Na sua mensagem de despedida, Federer recorda que os últimos três anos apresentaram-lhe “desafios na forma de lesões e cirurgias”. Devido a problemas físicos, o helvético não compete oficialmente desde a edição 2021 de Wimbledon. Em agosto do ano passado foi operado, pela terceira vez, ao joelho direito.
“O ténis tratou-me mais generosamente do que alguma vez sonhei, mas agora tenho de reconhecer que é tempo de terminar a minha carreira competitiva”, reconhece o suíço.
Com um total de 103 títulos conquistados e duas medalhas olímpicas arrecadadas — ouro em pares em Pequim 2008 e prata em singulares em Londres 2012 —, Federer assume que esta é uma decisão “agridoce”, porque sentirá “saudades” de tudo o que o ténis lhe deu. Mas o ainda jogador sublinha que “há muito que celebrar” e que se considera “uma das pessoas mais sortudas do planeta”: “Foi-me dado um talento especial para jogar ténis, e fi-lo a um nível que jamais imaginei, por muito mais tempo do que alguma vez achei possível”, lê-se no texto

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Com 1251 encontros vencidos na sua carreira, Roger Federer deixa emocionados agradecimentos à sua “incrível mulher” Mirka e aos “maravilhosos” quatro filhos que tem, bem como aos “amados pais” e à “querida irmã”. O suíço destaca ainda o papel dos treinadores e membros da equipa técnica e staff que teve desde que, em 1998, se tornou profissional.
Federer recorda ainda os adversários que enfrentou, com quem, diz, teve a “sorte” de disputar “tantos encontros épicos”, levando o “ténis para novos níveis”.
Para o 20 vezes vencedor de majors, os últimos 24 anos no circuito foram “incríveis”, levando-o a “rir e chorar, sentir alegria e dor” e, sobretudo, a sentir-se “incrivelmente vivo”. “Quero agradecer, do fundo do meu coração, a todos os que à volta do mundo ajudaram a concretizar os sonhos de um jovem apanha-bolas suíço”, escreve Federer.
O texto termina com uma dedicatória de amor “ao jogo do ténis:” "Amo-te e nunca de deixarei".