Em dois anos, Jannik Sinner ascendeu da 78.ª posição do ranking do ATP para o 10.º posto, tornando-se, assim, no jogador mais jovem a conseguir terminar o ano entre a primeira dezena de melhores tenistas do mundo desde Juan Martin del Potro, em 2008.
A sua evolução quase meteórica pode ter muito a ver com talento, mas não só. Sinner possui um jogo agressivo, assentado na boa cobertura do court. Contudo, não é esse o aspeto que outros grandes campeões o têm elogiado.
O tenista italiano é também conhecido pela sua calma e concentração em campo, principalmente para a sua tenra idade. Foi exatamente este aspeto que Novak Djokovic salientou depois de o defrontar no torneio de Monte Carlo, em abril, deste ano. “O que mais me admira é o seu profissionalismo e dedicação às rotinas do dia a dia, que são necessárias para se poder jogar ao mais alto nível”, disse, ao site da ATP.
O sérvio acrescentou ainda que Sinner “tem uma mentalidade ótima, que o faz parecer mais velho que outros jovens.”
Porém, não é apenas a parte mental que é apreciada por tantos campeões da modalidade. O italiano tem uma facilidade de aceleração de bola tanto na pancada de direita, como de esquerda, algo que já foi valorizado por um certo tenista suíço e também um dos seus ídolos de infância, Roger Federer.
Embora receba inúmeros elogios, Sinner admite, citado pela "Bola Amarela", que “ainda tem muito a melhorar”.

Matthew Stockman
Início de carreira já tardio
Mas, surpreendentemente, o amor quase obsessivo do italiano pelo ténis surgiu apenas quando tinha 13 anos. Até lá, praticava futebol e esqui, modalidade em que foi campeão nacional de sub-12. Quando priorizou o ténis, começou a ser orientado por Riccardo Piatti, histórico treinador italiano que chegou a acompanhar Djokovic no início da sua carreira. O jogador transalpino disse que preferiu o ténis por ter mais margem de erro durante todo o encontro e, por ser um desporto individual, poder tomar todas as decisões.
Como júnior, Sinner nunca foi um jogador de destaque e nem chegou a participar num Grand Slam do escalão. Isso deve-se ao facto de ter participado em poucos torneios de alta categoria de sub-18 — terminou a sua carreira de júnior sem ter ultrapassado o top-100 do ranking da Federação Internacional de Ténis (ITF).
Sinner preferiu concentrar-se em torneios ITF ou Challenger (escalão abaixo do circuito principal do ATP), por "querer jogar contra jogadores mais velhos", referiu, em entrevista à ATP. A sua evolução foi notória. Em 2019 já estava no top-100 mundial e, nesse ano, ganharia as ATP Next Gen Finals em Milão.
Em outubro de 2020, chegou pela primeira vez aos quartos-de-final de Roland Garros, perdendo apenas para o eventual campeão, Rafael Nadal. Terminaria o ano na 37.ª posição do ranking. Já em 2021, chegou à final do torneio de Miami, um dos principais no circuito ATP. Alcançou ainda por duas ocasiões a segunda semana de um major e ganhou quatro títulos, algo que o fez entrar pela primeira vez na elite do ténis mundial.
Embora não tenha conseguido entrar diretamente para as ATP Finals, uma lesão abdominal do seu compatriota Matteo Berrettini, deu-lhe essa oportunidade. Ganhou logo o encontro de estreia, tornando-se no jogador mais novo, desde Lleyton Hewitt em 2000, a vencer na estreia. Acabou, assim, a época no top-10 mundial e foi o sexto tenista mais jovem nos últimos 30 anos a consegui-lo.
Influência dos pais na sua maturidade
Por enquanto, Sinner não se deixa deslumbrar com os resultados. “É um longo caminho para ser um campeão e ainda me falta muito para lá chegar. Sei que fiz um bom começo para poder jogar ao mais alto nível, mas, neste momento, não penso em ser um campeão”, confessou à ATP, antes do torneio de Barcelona.
Com os bons resultados e o recrudescimento no ranking vem uma pressão acrescida. Sinner, que ainda se está a habituar a estas andanças, admite que a única pressão que existe é aquela que coloca sobre ele próprio e “não quer saber o que outras pessoas pensam.” Prefere, sim, focar-se no seu caminho e não “está preocupado se ganhar aos 20 ou aos 23 anos”, afirmou ao ATP este verão.
Acrescentou, também, que “o objetivo é ser um campeão daqui a três, quatro anos e todo o processo é a pensar a longo prazo.”
Esta cabeça e humildade é algo que os pais lhe incutiram desde pequeno. O pai, Johann, é um chef e a mãe, Siglinde, uma empregada de mesa no mesmo restaurante. “Vem dos meus pais, porque têm uma profissão simples. Foram eles que me transmitiram esta mentalidade de dar o melhor todos os dias e nunca perder a energia do que se está a fazer”, disse, em março, à ATP.
Agora, o seu foco centra-se na final da Taça Davis, que começa esta quinta-feira e onde Jannik Sinner será o tenista italiano mais bem cotado. Depois, é regressar aos treinos para encarar a nova temporada com energias renovadas.
*texto escrito por Mariana Alves Antunes e editado por Diogo Pombo.