É fevereiro, o mundo está covid free - ou assim se julgava - e Stefanos Tsitsipas entra na pequena sala de imprensa de manga curta no calor abrasador do Dubai, e senta-se perante os jornalistas, após mais uma vitória. Um deles pergunta-lhe pela influência familiar na carreira, já que o pai treina-o, a mãe acompanha-os e a resposta do tenista é esta: “Honestamente, às vezes farto-me de os ter à volta a toda a hora e sinto que estão demasiado envolvidos na minha vida”.
Ao mesmo tempo “ama-os”, esse amor não é questionável e Stefanos reforça-o: a causa da conversa não está aí e o tempo conta dois dias até ele regressar aquela sala, com a mesma t-shirt, acabado de se qualificar para as meias-finais do torneio e uma jornalista peculiar, sentada na última fila, puxar de novo o tema.
Ela explica a sua presença, diz estar ali para “perceber” como Tsitsipas se sente, pois duvida se ele “tem noção de quantos grandes tenistas foram acompanhados e ajudados pelas famílias” no tour. E ele pergunta se ela é uma jornalista, a perguntadora à paisana ignora-o, segue o raciocínio e enumera vários exemplos: Alexander Zverev, Marat Safin, Martina Hingis, Steffi Graff, Arantxa Sánchez Vicario, Jennifer Capriati.
Essa 'jornalista' é a mãe Tsitsipas e o filho, alinhado na brincadeira do momento com os longos e suados cabelos presos atrás das orelhas, quis saber, em específico, a quantos tenistas masculinos que ganharam Grand Slams se aplicava o ponto que ela estava a tentar provar. “Talvez tu possas ser o primeiro”, retorquiu, desarmando o filho que perderia na final do ATP 500 do Dubai contra Novak Djokovic.
A derrota não beliscou o que Tsitsipas é, ou pelo menos como aparentava ser.
A descrição do grego como um dos mais talentosos tenistas da sua geração, correspondente às fornadas nascidas nos finais dos anos 90, é consensual. Ele tem as mãos impregnadas de técnicas, um jogo de pés sónico e a esquerda a uma mão não só elegante, mas eficiente, que aplica num estilo que descola facilmente do fundo do court para ir fechar pontos à rede.
Stefanos nunca foi um protótipo, a sua invulgaridade está à vista no canal de YouTube que mantém, no podcast do qual é o anfitrião e na conta de Instagram que mantém refugiado num alter ego, onde publica pedaços do seu olhar fotográfico dos lugares que visita. Em todo o lado se nota a pegada quase filosófica e deliberativa de um tipo de 22 anos que longe está de se limitar a ser um tenista que só fala de ténis e pensa em ténis.

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Mas, pela idade e por talvez ter tardado um pouco mais do que outros jovens e joviais (Zverev, Medvedev, Thiem) a cimentar-se em torneios do Grand Slam, parecia que o grego estava a ficar um pouco para trás, a demorar a dar o pulo, como um miúdo que deixa crescer as barbas da promessa até já ninguém reparar que as tem a cair do queixo.
Em 2019, chegou às meias-finais do Open da Austrália, só que então tinha apenas cinco jogos ganhos em majors. Este ano, em Roland Garros, repetiu o feito de prolongar a sua 'vida' até à segunda semana de um dos quatro maiores torneios do ténis onde é suposto os melhores aparecerem.
Agora é novembro, eis o mundo em covid e Tsitsipas está em Londres de raquete na mão no ATP Finals. Ganhou o direito de participar por ser o sexto tenista do ranking de onde se apuravam os oito primeiros para a tradicional prova de final de época, que conquistou o ano passado. Há um título a defender.
E o grego, que ultimamente tem sido obrigado a defender-se de algumas lesões, perdeu com Thiem, salvou um match point para vencer a Rublev e na quinta-feira (20h, Sport TV3) terá de ultrapassar Rafael Nadal para chegar às meias-finais. Porque, embora não só por isto, ele “não quer ser mais um miúdo”, mas sim “como um adulto”.
Tsitsipas deu uma entrevista ao “The Guardian”, que foi escrita em texto livre e na qual é sugerido que o tempo passado em confinamento permitiu ao grego maturar e depois dizer as coisas que lhe são citadas. “Aprendi muito no tour, aprendi muitas coisas fora do court, enfrentei dificuldades e cresci com os meus erros e com as relações que tive com muitas pessoas”, explicou, a aura pensador sempre presente, para concluir que “isso é o que chamo de ser um adulto”.
Comportar-se adultamente não foi o que Tsitsipas fez no início deste ano, logo em janeiro, quando perdeu as estribeiras, atirou a raquete contra uma cadeira e no processo acertou no pai, que era o treinador da equipa da Grécia, durante um jogo contra Nick Kyrgios, na ATP Cup. A mãe até se aproximou, aparentemente, para lhe dar uma reprimenda.
Hoje estamos em novembro, Stefanos Tsitsipas cresceu e quer terminar o ano a ser tratado como um adulto.