Ainda Caitlin Simmers era sustida nos ombros de alguém, carregada areal acima na praia de Supertubos e todas as câmaras a filmarem o coroar de uma imberbe envergonhada até para reagir à própria vitória, quando se aproveitou o holofote fixado na adolescente-prodígio para se conversar com quem tantas vezes viveu momentos semelhantes, há tanto tempo. Mas não parece existir algo que atente contra a boa-disposição de Stephanie Gilmore, nem o ser desviada da hipótese de presenciar a primeira alegria dos 17 anos de alguém.
Essa medida de tempo é quanto a australiana leva contado no circuito mundial. Alta, de longos cabelos loiros, dentadura sempre à mostra, ela mais do que dobra a idade da vencedora estreante em Peniche e supera-a imensuravelmente em vitórias celebradas: Stephanie ganhou o primeiro título mundial em 2007 e o último dos oito que tem, um recorde, em 2022, chegada às WSL Finals no 5.º lugar do ranking e obrigado a ganhar a muita gente. Aos 35 anos, é a rainha do circuito, a mais velha, pouco inocente será mencionar Kelly Slater por duas vezes durante a breve entrevista - se há ponto de comparação com alguém, será com ele.
Tem de provar nada, a ninguém. Ultrapassado o recorde de título de Layne Beachley, a australiana começou este ano a perder à primeira em Pipeline e não sobreviver aos ‘oitavos’ no MEO Rip Curl Portugal Pro, com um 5.º posto pelo meio em Sunset, no Havai. Admite, “sem dúvida”, como tem sido “um processo lento voltar ao ritmo” e ainda está num limbo de “ó, merda, já estamos de volta ao trabalho”. E também confessa que é “uma coisa boa” a forma como as surfistas mais novas a têm feito questionar-se - “acerca de como me irei safar contra elas”. Depois de tanto ganhar, Stephanie Gilmore já perdeu para miúdas como Caitlin Simmers ou Sophie McCulloch e esse é o seu combustível: “Perder”.
É isso que ainda a faz ir atrás do “querer ser melhor do que elas”, dessa “vontade” que diz ser indispensável para tentarmos entender o que há no recheio das campeãs e dos campeões. É audível o rubro na praia, os aplausos à adolescência, quando Stephanie Gilmore fala do que ainda a move a continuar nesta nómada vida de surfista quando já nada lhe falta vencer.
O que sentes depois de veres uma miúda de 17 anos ter ganhado a prova aqui em Peniche?
Acho que todas já sabíamos que era uma questão de tempo, a Caity já está no radar há alguns anos e ela é refrescante, tem um estilo diferente, parece que tem uma atitude de não querer saber, mas é super competitiva e surfa heats de forma muito inteligente, também. Nos primeiros eventos no Havai não conseguiu os resultados que pretenderia [um 9.º e um 5.º lugares], o que a abalou um pouco.