Fosse a boa-disposição uma divisa que importasse às operadoras telefónicas, a chamada teria sido bem dispendiosa. Yolanda Hopkins Sequeira atende e a alegria irrade-lhe da voz, quiçá sintoma de já ter regressado a casa, ou porventura sinal do que trouxe na bagagem de Marrocos, onde se agarrou “a uma coisa da qual já estava atrás há algum tempo”. Em Taghazout Bay, venceu uma etapa de 3.000 pontos do Qualifying Series (QS) para ser campeã europeia e garantir o direito a participar no circuito Challenger, de onde saltam anualmente cinco surfistas para o Championship Tour, afamado nas siglas CT. Aos 25 anos, é lá que surfa por estar, isso não é novidade.
Mas essa tramada onda, a mais arisca de ser apanhada, já pareceu uma miragem de alto mar para Yolanda.
Nascida na costa do Algarve virada a sul e tímida em ondulação, conheceu o treinador John Tranter, um ex-surfista britânico de amor nutrido com Portugal. Mudou-se para a sua casa no Alentejo, onde ele tem uma escola de surf, hoje orbita em torno de Sines. O dinheiro nunca lhe abundou nas posses, chegou a fazer uma recolha de fundos para angariar os 7.500 euros de que precisava para ir às etapas do QS onde agora reina e essa “não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira nem a quarta” vez que teve de o fazer. Isto já nos dissera no Japão, há ano e meio, na praia que lhe deu o 5.º lugar nos Jogos Olímpicos para os quais se apurou um mês antes, vinda do nada para ser vice-campeã dos World Surfing Games onde foi buscar a qualificação.
Com o único diploma olímpico para o surf português, hoje Yolanda Hopkins tem outra vida, necessariamente diferente. Ainda demorou a ser distinta na carteira: só no verão passado assinou “o maior contrato” de patrocínio da carreira, com a Prio, a que se seguiu outro com a Oney. Já não tem de contar dinheiro, nem depender de caridosas doações como a de uma turista a pernoitar na escola de surf do seu treinador, que, ao saber da sua história, “ligou o computador e comprou viagens” para irem a uma prova nos EUA. “Viram o meu potencial, querem levar-me aos Jogos Olímpicos outra vez”, resume agora. Ter na prancha os autocolantes de uma gasolineira e um banco francês ligado ao hipermercado, contudo, é inusitado para quem leva as marcas para o mar.