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Jogos Olímpicos

Houve alturas em que foi difícil para Yolanda Hopkins ter dinheiro para comer. Agora espera que o 5.º lugar em Tóquio faça o telefone tocar

Foi campeã nacional em 2019, vice-campeã nos Mundiais ISA há um mês e agora 5.ª nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas sem um patrocinador, a carreira de Yolanda Hopkins Sequeira tem sido feita da generosidade alheia, das doações das pessoas que a ajudam a pagar viagens para os campeonatos, onde tenta o sonho de chegar ao Championship Tour, a divisão máxima do surf mundial. Tóquio pode ser o trampolim para que os dias de dificuldades sejam apenas uma parte da história que quer contar

JOSÉ COELHO/Getty

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Uma pessoa abre uma daquelas aplicações de mapas e a praia de Tsurigasaki nem parece longe de Tóquio. Na verdade são quase 100 quilómetros, quase duras horas de caminho e para se chegar cedo ao local que acolhe a primeira prova olímpica de surf da história é preciso madrugar. E, nesta terça-feira, também levar o nosso melhor impermeável. Depois de uma semana de calor infernal, capaz de levar atletas à desidratação e jornalistas a belíssimos escaldões à ciclista, para continuarmos nesta toada desportiva, chegou o tufão Nepartak, apresentando-se ao mundo com chuvas torrenciais e muito vento em Tóquio.

Em Tsurigasaki, na região de Chiba, vê-se que terá chovido bem às primeiras horas da manhã. É necessário fazer uma gincana para não aterrar os pés em poças de água, escurecidas porque é negra a areia da praia. As tendas que abrigam staff e profissionais da comunicação social abanam por todos os lados, mas quando Yolanda Hopkins Sequeira entra na água, pelas 9h20, hora japonesa, pára de chover e chega até uma pequena aberta. Poderiam os pequenos raios de sol que corajosamente tentavam libertar-se das carregadas nuvens cinzentas significar um dia de luz para a comitiva portuguesa?

Os destinos das competições, sabemos, não se compadecem com pretensos sinais do além, com coisas do campo do esotérico. E quando a portuguesa de 23 anos e a sul-africana Bianca Buitendag enfrentaram a maré para tentar um lugar nas meias-finais do surf olímpico, o que encontraram foram ondas pouco definidas, um mar revolto, muito difícil de gerir. Naqueles 30 minutos, foi preciso lutar para encontrar um nico de oportunidade. Hopkins, algarvia nascida em Faro, filha de pai português e mãe galesa - daí o Hopkins -, chegava aos quartos de final depois de derrotar a vice-líder do ranking mundial, a francesa Johanne Defay. Já Buitendag trazia às costas experiência no Championship Tour, coisa que a portuguesa não tem, e também ela uma vitória de estrondo, ao bater a heptacampeã Stephanie Gilmore, a australiana que era favorita ao primeiro ouro olímpico.

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