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Frederico Varandas, o médico que durante uma emboscada no Afeganistão parou para ouvir um relato do Sporting: “Nunca esquecerei esse dia”

O médico que se demitiu esta quinta-feira para se poder candidatar à presidência do Sporting já esteve em missão no Afeganistão, mas nem nesses momentos esqueceu o clube: "Para mim não existe o dia de folga em que desligo do Sporting"

Expresso

Em 2008, com a patente de Tenente, Frederico Varandas foi o Médico Oficial da Força Nacional Destacada no Afeganistão

DR

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Uma das mais recentes campanhas publicitárias do Sporting lançou uma nova hashtag para designar os adeptos: #feitodeSporting. E se há alguém que cumpre na perfeição essa designação, esse alguém é Frederico Varandas - em Portugal ou no Afeganistão.

"Estávamos em Kandahar, no meio do deserto, só com os talibãs e perguntei se conseguíamos apanhar o relato. Nesse dia estávamos em alerta máximo porque os serviços secretos afegãos avisaram-nos de um possível ataque que poderíamos sofrer. Evacuámos toda a gente e só ficaram os necessários para combate, nos quais se incluíam o médico e o enfermeiro. Saímos das tendas porque poderiam ser atacadas e ficámos num sítio, refugiados, quietos e em silêncio obrigatório. Sem luzes, sem nada. Fui à mochila, com o jogo quase a começar, agarrei no rádio e passados uns minutos estávamos a ouvir a Antena 1. Dos 130 homens, metade estava ali junto a mim a ouvir o relato. Costumo dizer que, pela primeira vez, afegãos e talibãs ouviram o rugido do leão. Nunca esquecerei esse dia".

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A história, referente à final da Taça de Portugal de 2007/08 (que o Sporting conquistou ao FC Porto), foi contada pelo próprio Frederico Varandas, em 2016, em entrevista ao jornal do Sporting, depois do médico ter passado seis meses no Afeganistão, em 2008, integrado nos Comandos, numa missão que lhe valeu uma condecoração com a Medalha D. Afonso Henriques.

"Achei que ia lá ficar", confessou também Varandas. "Ninguém percebe o que é nunca mais passarmos a ver a vida da mesma maneira. Muda-nos completamente, para sempre. Aqui temos noção de coisas - ter não sei quantos lesionados, bater no carro, etc - que julgamos que são problemas, mas depois pegamos numa mochila, agarramos numa G3, metemos um capacete, vamos para Kandahar e aí entendemos o que são mesmo problemas", explicou.

Desde 2009, Frederico Varandas é capitão do Exército português, depois de ter ingressado no primeiro curso de Medicina da Academia Militar, em 1998. Posteriormente, em 2007, concluiu uma Pós-Graduação em Medicina Desportiva, no mesmo ano em que entrou no futebol, como médico do Vitória de Setúbal.

Foi diretor clínico do clube sadino entre 2009 e 2011, altura em que ingressou então no Sporting, também como diretor clínico, naquela que sempre foi a sua "cadeira de sonho", já que sempre foi adepto dos leões, tendo até feito parte da claque Juventude Leonina.

"A relação que tenho com o clube, muitas vezes as pessoas não a entendem. É como se fizesse parte de mim. Como tenho os meus pais, a minha namorada, os meus amigos, tenho o Sporting. Não existe a minha vida sem o Sporting", confessou.

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