Estar na minha posição e escrever sobre os trabalhos de outros é muito confortável. Demasiado confortável. Custa-me muito criticar as equipas quando perdem, sobretudo quando já existe uma avalanche de críticas apontadas ao treinador com o qual estou absolutamente solidário. Mas a verdade é que desde 2016, com a excepção da Liga das Nações realizada em Portugal, não vejo factores positivos de relevo a apontar aos comandados de Fernando Santos. No futebol, como o próprio diz muitas vezes, importa é ganhar — o fundamental são os resultados. O problema hoje, e sempre, é selecionar o caminho a percorrer para se chegar a um resultado favorável.
Em Portugal, no futebol, os realistas apelidam de filosofia esse processo de seleção. Porque, e é nisto que este jogo se distingue muito de outras modalidades, uma escolha lógica e acertada aumenta a probabilidade de vitória, mas não a garante. Como tal, quando um “filósofo” aparece a criticar uma vitória, a resposta de quase todos é: o que interessa é ganhar. Não importa se foste inferior ao adversário menos na eficácia, não interessa se tiveste sorte. Nunca se fala de forma veemente de um treinador, de uma equipa, de um grupo a jogar abaixo do seu potencial, só porque aqui e ali vão conseguindo resultados que fazem os realistas encobrir o óbvio.
O futebol português é um grande exemplo que olhar ao resultado, por si, é o maior engano que pode existir para o crescimento e evolução. É um futebol que vive do fantasma da vitória no Europeu de 2016, cristalizado na memória de um disparo certeiro do Éder que derrotou a França no prolongamento, e com isso eternizou a data mais icónica deste desporto, neste país.