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Blessing Lumueno

Blessing Lumueno

Treinador de futebol

Portugal ainda não saiu de 2016

É preciso adaptar a ideia, refrear os receios e anseios, e dar espaço para que o talento emergente e mais que reconhecido dos jogadores portugueses apareça na seleção. Porque é deprimente olhar para todo este talento e perceber que a equipa não divergiu do sucesso de há cinco anos, escreve o treinador Blessing Lumueno, descrevendo a forma como Portugal hoje joga como um retrato cultural da sociedade portuguesa: que se conforma com os serviços mínimos, que se perde e retrai nos mesmos receios e anseios de um bebé que duvida se deve descer do sofá

Blessing Lumueno

PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty

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Estar na minha posição e escrever sobre os trabalhos de outros é muito confortável. Demasiado confortável. Custa-me muito criticar as equipas quando perdem, sobretudo quando já existe uma avalanche de críticas apontadas ao treinador com o qual estou absolutamente solidário. Mas a verdade é que desde 2016, com a excepção da Liga das Nações realizada em Portugal, não vejo factores positivos de relevo a apontar aos comandados de Fernando Santos. No futebol, como o próprio diz muitas vezes, importa é ganhar — o fundamental são os resultados. O problema hoje, e sempre, é selecionar o caminho a percorrer para se chegar a um resultado favorável.

Em Portugal, no futebol, os realistas apelidam de filosofia esse processo de seleção. Porque, e é nisto que este jogo se distingue muito de outras modalidades, uma escolha lógica e acertada aumenta a probabilidade de vitória, mas não a garante. Como tal, quando um “filósofo” aparece a criticar uma vitória, a resposta de quase todos é: o que interessa é ganhar. Não importa se foste inferior ao adversário menos na eficácia, não interessa se tiveste sorte. Nunca se fala de forma veemente de um treinador, de uma equipa, de um grupo a jogar abaixo do seu potencial, só porque aqui e ali vão conseguindo resultados que fazem os realistas encobrir o óbvio.

O futebol português é um grande exemplo que olhar ao resultado, por si, é o maior engano que pode existir para o crescimento e evolução. É um futebol que vive do fantasma da vitória no Europeu de 2016, cristalizado na memória de um disparo certeiro do Éder que derrotou a França no prolongamento, e com isso eternizou a data mais icónica deste desporto, neste país.

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