Bader Al-Mutawa é cidadão do Kuwait, onde nasceu há 38 anos. Com carreira nas forças armadas do país do Golfo Pérsico, faz parte do departamento de assuntos de segurança da guarda do parlamento. Em 2017, foi promovido ao posto de coronel, numa cerimónia com altos cargos kuwaitianos.
Al-Mutawa é, também, jogador de futebol. Com uma carreira quase inteiramente passada no Qadsia, do seu país, ganhou destaque e tornou-se uma das figuras da bola no Kuwait. Tanto assim foi que, em 2012, Fawaz Al-Hawasi, compatriota de Al-Mutawa e então dono do Nottingham Forest, decidiu colocar o jogador à experiência no clube inglês. Sean O'Driscoll, técnico da equipa, ficou impressionado com as qualidades de Bader, pedindo que este fosse inscrito. No entanto, a contratação não se concretizou porque o pedido de visto de trabalho foi recusado.
Assim, Al-Mutawa foi prosseguindo a carreira no Kuwait, com uma esporádica passagem pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita. E aqui começa a ligação ao homem que bateu o recorde do kuwaitiano. A 14 de junho de 2022, num Kuwait-Jordânia, Bader Al-Mutawa chegou às 196 internacionalizações, tornando-se o futebolista masculino com mais encontros realizados por uma seleção — nas mulheres, há 26 jogadores que superam as duas centenas de desafios, com a líder a ser a norte-americana Kristine Lilly, com 354 jogos.
Agora, Cristiano Ronaldo superou a cifra de Bader Al-Mutawa. Titular contra o Liechtenstein, no começo da era Roberto Martínez, que arranca com “uma energia diferente”, o madeirense cumpre a 197.ª internacionalização, novo máximo no futebol masculino.
Laurence Griffiths/Getty
Com a confiança que o novo selecionador parece colocar no jogador do Al-Nassr, Ronaldo posiciona-se para ser o primeiro homem com 200 internacionalizações. Um patamar que, a 20 de agosto de 2003, seria difícil de imaginar.
Naquele dia de verão, em Chaves, Luiz Felipe Scolari lançou o jovem de 18 anos ao intervalo de um particular contra o Cazaquistão. O Sporting-Manchester United, na inauguração do novo Alvalade em que o madeirense se mostrou aos ingleses, fora 14 dias antes e o técnico brasileiro aproveitou o embalo para estrear o então extremo ágil e ziguezagueante. O jogo seria decidido por Simão Sabrosa.
Quase 20 anos depois, CR7 volta a fazer história num dos palcos mais especiais da carreira. Depois de se exibir na inauguração de Alvalade, ali perto da escola onde andou, lá voltou para marcar à Holanda e mostrar o corpo, nas meias-finais do Euro 2004; para fazer um golo ao Sporting, ser aplaudido e pedir desculpa, em 2007; para marcar, numa chapelada ao Luxemburgo, o golo 699 de uma trajetória com 828 festejos (número que, provavelmente, perderá a validade pouco depois da publicação deste texto).
Mike Egerton - EMPICS/Getty
O avançado junta, assim, o estatuto de mais internacional ao de maior goleador do futebol de seleções da história. Os 118 golos que tem antes de defrontar o Liechtenstein colocam o mítico iraniano Ali Daei em segundo, com 109, e Lionel Messi, com 98, em terceiro.
No último Mundial, no Catar, Cristiano tornou-se o primeiro homem a marcar em cinco fases finais da principal competição global. É, juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafael Márquez, o alemão Lothar Matthäus e o argentino Lionel Messi, o único a ter disputado uma mão-cheia de vezes a prova quadrienal.
De Scolari a Roberto Martínez, passando por Carlos Queiroz, Paulo Bento e Fernando Santos, Ronaldo olha agora para a presença no sexto europeu da carreira. Na competição que o fez chorar de tristeza em 2004 e de alegria em 2016, o português é dono de todo o tipo de registos máximos: mais fases finais disputadas (cinco), mais jogos (25), mais encontros ganhos (12), mais golos na fase final (14) e mais na qualificação (31).