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Cristiano Ronaldo: “O que se vive agora na seleção é muito positivo, há algo especial no ar. É uma energia diferente”

Cristiano Ronaldo foi o jogador designado para a antevisão ao encontro com o Liechtenstein (quinta-feira, 19h45, RTP1) e parece não ter ficado qualquer dúvida: o capitão está satisfeito com o novo selecionador, feliz com a mudança, com “as ideias diferentes”, “mentalidade diferente” e sua motivação, diz, continua “intacta”. Sobre o adeus à seleção, admite que colocou tudo “em cima da balança”

Expresso

Gualter Fatia

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Há muito que não se via Cristiano Ronaldo assim tão leve. Escolhido para falar à imprensa antes do primeiro jogo de qualificação para o Euro 2024, o capitão surgiu motivado, feliz com os treinos de Roberto Martínez, a quem deixou largos elogios. “É um selecionador com uma mentalidade diferente e nós já sentimos isso”. Sublinhou que “o ar está diferente”, com ideias novas e anteviu uma seleção nacional mais atacante, mais positiva, com outra mentalidade.

A nível pessoal, elogiou o campeonato da Arábia Saudita, diz que aprendeu muito nos últimos meses, que agora vive “passo a passo”, que é “um homem melhor”. E admitiu que chegou a pensar no adeus ao futebol internacional. Mas fica uma frase: “Adoro jogar pela seleção”.

Nova era na seleção nacional

“Tem sido muito positivo. Noto que os jogadores estão muito felizes, o ambiente está muito bom. É um capítulo diferente para todos nós, jogadores, staff e até para o país. As energias são boas, são positivas, temos um ar fresco, ideias diferentes, com mentalidades diferentes e isso nota-se muito. A nível pessoal, muito feliz por regressar à seleção, poder continuar a ajudar a seleção”

Muda o papel de Cristiano?

“Acho que o meu papel na seleção nos últimos 15, 10 anos tem sido o mesmo, sempre virei à seleção quando achar que contam comigo, a minha motivação está intacta ano após ano. É como se fosse a primeira vez, adoro jogar na seleção. Não é coincidência 20 anos ao mais alto nível. Estou muito feliz. Até o selecionador, o seu staff e até o presidente acharem que eu sou uma mais-valia, darei sempre o meu melhor. Isto é a minha casa e sinto-me muito bem aqui”

Diferença no estilo de Martínez

“É uma cultura que a mim me diz muito, tenho muitos amigos em Espanha, os meus filhos nasceram lá, adoram estar em Espanha, principalmente o Cristianinho que tem todos os seus amigos aí. Joguei lá muitos anos. É uma energia diferente, uma aura diferente. É bom haver uma mudança e tenho a certeza que vai ser positiva, para nós, até para Portugal. É um selecionador com uma mentalidade diferente e nós já sentimos isso”

Está como nos velhos tempos?

“Sinto-me muito bem, por isso é que estou na seleção. Se não estivesse bem o mister não me tinha chamado. [A Arábia Saudita] é um campeonato muito competitivo, vocês deviam olhar de uma maneira diferente para o campeonato árabe. Não é uma Premier League, não vou mentir, mas é um campeonato que me deixou surpreendido, pela positiva. Os jogadores árabes são bons, os estrangeiros dão um nível diferente. Daqui a 5, 6, 7 anos, se continuarem com o plano, será a 4.ª, 5.ª liga do mundo. Estou bem, bem rodado, tenho bastantes minutos e estou pronto para jogar”

Concorrência na frente de ataque

“Passo a passo, não faço planos a longo prazo. A minha família também pensa assim, por algumas situações que aconteceram na minha vida não consigo pensar a longo prazo. Sobre o Gonçalo Ramos: tem feito uma temporada extraordinária, no seu clube tem feito uma boa temporada. Mas na seleção é sempre bom ter concorrência, senão a seleção não cresce. Eu sempre tive, o Pauleta, o Nuno Gomes, o Hugo Almeida. Vou tentar estar o melhor possível, estarei sempre preparado e depois cabe ao mister decidir, jogar com um avançado, com dois. Nós temos de estar sempre preparados para o que é pedido pelo selecionador. E eu, um ano mais, estarei preparado”

Mais bola

“Só a mudança em si já é positiva para nós, é um ar diferente, ideias novas. Os jogadores são diferentes, possivelmente o sistema mudará. A mudança na vida é positiva, aprendemos algo. O que se vive agora na seleção é algo positivo, há algo especial no ar. A intensidade nos treinos é muito boa, é diferente. Os meus companheiros adoraram os treinos. Vamos estar preparados. Tenho a certeza que Portugal vai ser uma equipa com mais ataque. O que mais notei é a dinâmica, é tudo sempre a andar, não há muitas paragens, os jogadores estão sempre ligados. Eu na minha vida também sou assim, identifico-me muito com isso”

Ensinar aos mais jovens

“Eu aprendo bastante com os jovens, ideias novas, eles têm sempre alguma coisa para nos ensinar. Sou o jogador mais velho aqui, tento incutir o que eles me pedem, tento sempre ajudar, faz parte do meu ADN. Temos um ambiente misto, não é só jovens, o grupo está bem repartido. As coisas têm corrido bem, estamos aqui há pouco tempo mas todos têm a expectativa de fazer as coisas bem e eventualmente serem opção para jogar e isso é bom”

Manchester United

“Acho que tudo o que acontece na vida tem uma razão. Eu agradeço passar por algumas coisas para poder ver quem está do meu lado, porque numa fase difícil é que se vê quem está ao teu lado. Houve uma fase menos boa na minha carreira, a nível pessoal primeiro e depois a nível profissional. Não há tempo nesta vida para arrependimentos, a vida segue, faz parte da nossa evolução. Quando estamos no cimo da montanha é difícil ver o que está cá em baixo e eu muitas vezes não conseguia ver. Agora vejo e isso foi uma aprendizagem como ser humano porque nunca tinha passado por algumas coisas pelas quais passei. Estou um homem melhor”

Passou pela cabeça o fim?

“Não vou mentir: na nossa vida temos de meter tudo em cima da balança. Pensámos, refletimos, eu e a minha família também, mas chegámos à conclusão que não podemos atirar a toalha ao chão. Eu consegui ver situações em diferentes ângulos e aprendi. Estou muito contente de regressar. O selecionador contava comigo e agradeço-lhe por isso. Teve uma conversa com todos os jogadores e consegui perceber que ainda tenho muito que dar à seleção. Quero e é o meu maior desejo”

Recorde

“É a minha motivação. Como vocês sabem, gosto de bater, recordes, tenho muitos recordes e o de amanhã é especial porque ser o jogador mais internacional da história é algo que me deixaria orgulhoso. Mas não só amanhã, gostava de ter ainda muitas internacionalizações se o selecionador quiser”

O ambiente é bom, antes não era?

“Era bom também, mas agora tem uma leveza, uma lufada de ar fresco, não é melhor ou pior. Neste caso a mudança é boa. Se falar com todos os jogadores eles vão dizer o mesmo. É uma energia diferente e eu não sei explicar. Por exemplo, todos estão na expectativa de serem titulares amanhã e isso é bom. Antes se calhar muitos sabiam [que iam ser titulares]. Agora não, faz com que o nível do treino seja maior, do compromisso. Eu estou a sentir que esta mudança vai ser positiva para nós e para o país também”