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FC Porto

A bola também fala

O FC Porto bateu esta noite, no Estádio do Dragão, o Atlético de Madrid, por 2-1, e terminou o Grupo B na primeira posição, beneficiando do empate entre Club Brugge e Bayer Leverkusen. Taremi e Eustáquio fizeram os golos dos campeões nacionais. Os espanhóis, com Félix na equipa titular, estão fora das competições europeias

Hugo Tavares da Silva

MIGUEL RIOPA

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O treinador do Atlético de Madrid disse uma coisa interessante na véspera deste jogo: “O campo fala”. Dizia-o relativamente a João Félix, após o bis do português contra o Cádiz, quem sabe para justificar as ausências e as presenças do futebolista. Há outra camada dentro desse dogma cheio de beleza: a bola também fala. E normalmente obedece aos melhores. Ou a quem a quer mais. Ou a quem corre mais por ela. Ou a quem a trata com mais afeto e criatividade. Este Porto é e vem sendo, nos últimos anos, tudo o que o Atlético ambiciona ser e venceu esta noite, no Dragão, por 2-1, garantindo o primeiro lugar do Grupo B da Liga dos Campeões (beneficiou do empate entre Club Brugge e Bayern Leverkusen).

A bola, a tal rainha que decide os fados neste jogo, entrou cedo na baliza de Jan Oblak, já depois de João Félix, com uma arrancada pela esquerda, descobrir que a banda sonora da noite seria, pelo menos para ele, uma sinfonia de assobios. Pepê, que parece um lateral de origem (quanta qualidade, quanta vontade de ser bom), arrancou com aquele seu jeito que responde aos instintos mais verdadeiros do corpo e encontrou Evanilson, nas costas de José María Giménez. O avançado brasileiro tentou bater na baliza, mas as agruras da técnica às vezes recompensam os atentos e crentes. Mehdi Taremi foi isso tudo e encostou, facilmente, ao segundo poste.

Foi o quinto golo na Champions para o iraniano. São oito pelo FC Porto nesta competição, o que lhe permite sentar-se na mesa de Marega, Brahimi, McCarthy e Zahovic, conta o Playmaker do “Zerozero”. O céu é Jardel (19), que permite a aproximação das nuvens Lucho (13), Lisandro López (13) e Jackson (12).

A passividade dos de Madrid era assombrosa. É certo que já não podiam seguir em frente na prova. Pior: jogavam para se manterem nas competições europeias. Não se corre como antigamente e nos duelos não se ferra os dentes como noutros tempos. Se uma equipa não é fina com bola e vive num deserto de ideias, perdendo esse lado mais competitivo torna-se banal. Observaram-se exibições esta noite difíceis de avaliar. Ou de compreender.

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Do outro lado era tudo ao contrário. Uma equipa super competitiva, comprometida com o objetivo de garantir o primeiro lugar do grupo. Diogo Costa mantém-se como o farol que permite, desde o início da jogada, calmarias e boas decisões. Otávio é o bloco de gelo que derrete quando é necessário, a bem dos que vestem como ele. Fábio Cardoso vai mantendo a regularidade positiva. Mesmo sem Mateus Uribe e David Carmo (e Pepe), o Porto com Grujic e Marcano não fecha a torneira competitiva. Tresandou a serenidade esta noite. O golo cedo, já se sabe, ajuda muito.

Galeno ameaçou o 2-0, que chegou mesmo, aos 24’. Zaidu lançou na frente e Galeno, mais astuto do que Savic, ganhou a bola. Depois, o brasileiro que está numa bela forma cruzou e Eustáquio, corajoso perante os dentes das botas de Reinildo, meteu na baliza. O médio canadiano vai ganhando peso neste Porto. Comprometido defensivamente, é competente com bola e chega bem à frente.

Os portugueses, sem serem brilhantes com bola, afinal ainda se suspira pela fineza de Vitinha e Fábio Vieira, sabiam encontrar os espaços e os momentos. É um grupo com veneno. O Atlético tentava morder em todo o campo e, não conseguindo, abria espaços, era uma equipa comprida, fácil de ser superada. João Félix, desacompanhado e desinspirado, ia tendo pouco jogo. Griezmann idem. Estes colchoneros – sem alma, sem jogo e desastrosos na defesa – são uma sombra do que foram em tempos idos.

O Club Brugge ia mantendo o empate com o Bayer Leverkusen, uma bela notícia para a noite fresquinha no Porto. O primeiro lugar do grupo promete um tubarão menos tubarão nos oitavos de final.

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Os mais de 47 mil adeptos no Estádio do Dragão sentiram outro tipo de adrenalina quando, já depois de Taremi tentar mais um golo e Zaidu sair por lesão, Diego Simeone disse a Yannick Carrasco para entrar no relvado. O belga, que entrou por Félix, encharcado se os assobios fossem chuva, levou cola nas botas e a coragem habitual. Driblando, abanou o jogo. Mas foi mesmo o FC Porto que perdeu o 3-0, por Evanilson.

Grujic já ia baixando para perto dos defesas centrais, para controlar os movimentos daquela gente toda de amarelo ou quem sabe cor de laranja. O jogo foi-se partindo. As poucas arrancadas de Pepê e os desarmes que ia amealhando davam beleza ao jogo). O árbitro travou um golaço de Griezmann, pois De Paul deu um toque doloroso no pé de Galeno. O Atlético ia ameaçando crescer, apesar de tudo. Em Dia de Todos os Santos, o santo Diogo Costa foi finalmente chamado a ser decisivo: Correa surgiu isolado e a perna do internacional português impediu apertos.

Oblak foi fazendo o seu, fazendo o que faz há tanto tempo e que fala contra uma equipa supostamente boa defensivamente. Ia evitando escândalos maiores, o resultado não engordou graças ao esloveno. Uma troca de bola satisfatória, daquelas que beija muitas botas e a uma velocidade importante, convocou os “olés” das gentes do Porto.

Em cima da hora, Marcano desviou para a própria baliza, depois de um canto, e traiu Diogo Costa. Mas o derradeiro apito, cujo timing parecia indiferente quando há um Diogo Costa assim na baliza, chegou finalmente e confirmou, já depois de entrarem Gonçalo Borges, Bernardo Folha e Rodrigo Conceição, mais uma vitória na Liga dos Campeões. E fez mais do que isso: graças ao empate entre Brugge e Leverkusen, os campeões nacionais terminaram mesmo no primeiro lugar do Grupo B. Quem diria depois das duas derrotas nas duas primeiras jornadas… Já o Atlético de Madrid, quem sabe fatigado desta forma de viver, está fora das competições europeias.