Querido clássico, folgo em saber que estás de regresso. Andaste desaparecido uns tempos, verdade?
Tenho uma confissão para te fazer: da última vez que te vi, achei que não estavas em grande forma. Posso estar a ser muito exigente e se for o caso, não me leves a mal, mas é exatamente isso que penso.
Estava à espera de mais, porque tu tens uma história incrível. És imponente e majestoso. És força e coragem. Talvez seja por isso que só te concebo na excelência.
É uma responsabilidade enorme, essa que te coloco em cima dos ombros, mas isso é porque conheço a tua qualidade. Sei que tens experiência e arcaboiço suficientes para lidar com ela a sorrir.
Voltemos à tua ultima aparição.
Esforçaste-te e mantiveste a intensidade de outros tempos, é certo. Deste o teu melhor numa fase embrionária, onde os teus automatismos estariam enferrujados e longe do seu melhor. Entendo isso. Mas, ainda assim, achei-te demasiado agitado, nervoso até.
Foi como se cada segundo que caminhaste naquela passerelle fosse percorrido sobre brasas, como se cada passo fosse o último que darias.
Lembro-me de olhar para ti uma hora depois de teres começado e ver 10 dos teus com amarelo. Dez em menos de 60 minutos! Não é normal e sabemos que a culpa não foi de um nem de dois. Foi de todos.
Também vi muita queda tonta e empolada, muito protesto fácil, muito bate-pé sem sentido, muita cabeça com cabeça. Vi gente a gesticular, intolerante e propensa ao conflito. Porquê? Nem parecias tu. O que aconteceu para te mascarares daquela forma?
Repara, não foste péssimo. Só estiveste longe de ser o que deves e podes ser. Gostava que tivesses noção da grandeza que tens. És maior, muito maior do que pensas.
É que só algo assim, tão especial, tem a capacidade de parar um país inteiro. Tens mais poder do que todos os poderosos juntos. Isso não te deixa orgulhoso?
Sente essa pressão de forma positiva. Transforma a ansiedade em motivação, a tensão em paixão. Abraça essas sensações e deixa que elas te motivem a mostrares a tua melhor face, o teu melhor tu.
Sê o que esperamos de ti: rápido, intenso, deslumbrante. Sê competência, respeito, entrega. Sê empenho, compromisso, incerteza. Sê fair-play. Não sejas a tua versão mais sórdida. Não sejas implicativo e menor, não sejas rasteirinho.
Lembra-te dos milhões que pagam milhares para te ver. Lembra-te das viagens que fazem, das alterações que impõem ao seu quotidiano, dos sacrifícios que farão para estar lá, ao teu lado, contigo, para te acompanhar de perto ou de longe. Para te entregar apoio e carinho.
Lembra-te da quantidade de meninas e meninos que vestirão as tuas cores e sorrirão por ti, para ti. Aos saltos, alegres, felizes. Inocentes. Não os desiludas, não lhes ensines o que não devem aprender de ninguém, muito menos de ti.
Não és apenas um jogo de futebol, um duelo entre dois gigantes, um número para o calendário. És uma responsabilidade nacional, uma montra mundial.
Obviamente, contamos contigo.
Arrasa.