O golo anulado ao Arouca, na primeira meia-final da Final Four, no municipal de Leiria, levantou dúvidas a quem seguia de perto as incidências do jogo. O enquadramento técnico da jogada justificou, de facto, a dificuldade em se compreender uma decisão que, à primeira vista, não convenceu ninguém.
O que me proponho aqui é tentar esclarecer o caro leitor sobre o que motivou a invalidação desse lance, suportando a análise nas leis de jogo e no Protocolo VAR.
Parece-lhe bem? Acompanhem então a cronologia dos acontecimentos:
1 - Num momento inicial, ainda à saída da área da equipa do Arouca, Coates saltou para intercetar o lance, tocando na bola mas não conseguindo que ela ficasse na sua posse;
2 - Nesse movimento, o central uruguaio acabou por tocar também em Basso, que disputou o lance com ele. O defesa brasileiro caíu por força desse contacto. É importante que fique claro que Coates não cometeu falta sobre o adversário: a entrada foi à bola e o choque posterior foi inevitável face ao movimento que ambos fizeram na tentativa de ganhar o lance;
3 - Basso, já no solo, viu a bola tocar-lhe uma primeira vez no cotovelo esquerdo, que estava encolhido e junto ao corpo, sem ter cometido aí qualquer infração;
4 - Ato contínuo, o jogador do Arouca - sempre deitado no relvado e seguramente convencido que sofrera falta - ajeitou a bola do pé para a mão esquerda, tocando-a ao de leve. Terá partido do princípio que o árbitro iria assinalar a infração.
Nesse segundo momento, o toque na bola (apesar de ténue e ligeiro) foi deliberado: houve mesmo infração, houve mesmo ‘mão na bola’.
5 - No entanto, a jogada não parou e a bola sobrou de imediato para um seu colega de equipa, que continuou lance de ataque. O mesmo que viria a culminar com aquele que seria o primeiro golo do encontro.
6 - Pelo meio, Fábio Veríssimo fez sinal de ‘vantagem’, o que para o exterior significou duas coisas:
- Que entendeu que Coates tinha feito falta sobre Basso;
- E que não viu depois a mão do defesa, deixando que o jogo prosseguisse quando a equipa do Arouca saiu a jogar.
Ambos foram mal analisados, embora em campo os dois pudessem levar a essa interpretação.
7 - O VAR, que dispõe de mais imagens/ângulos e melhores meios de análise do que qualquer um de nós, viu claramente o que todos vimos mais tarde, com recurso a repetições sucessivas do lance:
- A equipa do Arouca marcou um golo depois de, na fase inicial da jogada, um seu jogador ter tocado deliberadamente com a mão na bola.
Isso é factual. Isso foi evidente.
8 - Independentemente da avaliação errada em campo - aplicação incorreta da vantagem, que depois ‘legitimou’ os protestos de jogadores e técnicos do Arouca - o lance teve o único desfecho tecnicamente possível naquela circunstância: o anulamento do golo, após intervenção do VAR.
9 - Importa referir que, mesmo que Coates tivesse cometido falta sobre Basso, o essencial da decisão seria sempre o mesmo: a invalidação do golo.
11 - O protocolo pressupõe que o VAR recupere o lance até ao momento em que a equipa iniciou a fase de ataque que culminou em golo, pontapé de penálti ou outra qualquer situação que justifique a sua intervenção.
Esse foi claramente o momento em que Basso cometeu a infração. Foi aí, só aí, que a jogada perdeu a sua legalidade posterior.
Tudo o que de ‘dramático’ aconteceu depois foi apenas uma daquelas inerências de um jogo sempre imprevisível e surpreendente.
É perfeitamente normal que uma situação tão atípica e de volte-face rápido tenha criado alguma frustração e sensação de injustiça, mas se serve de consolo, que fique a garantia inequívoca do acerto da decisão.