Questão técnica interessante, a que aconteceu no jogo da passada quarta-feira, entre o FC Porto e o Gil Vicente FC (a contar para os quartos de final da Taça da Liga).
Sérgio Conceição, técnico principal da equipa azul e branca, foi (alegadamente) advertido por não ter, no braço, a braçadeira de treinador.
Se foi esse o caso (a dedução baseia-se nas imagens televisivas), a decisão dá-nos oportunidade de discutirmos se aquele amarelo teve ou não sustentação legal.
Vamos por partes.
A obrigatoriedade do uso de braçadeiras para elementos oficiais dos bancos técnicos é uma realidade que não decorre das leis de jogo: decorre do Regulamento de Competições do organizador da prova que, neste caso, foi a Liga Portugal.
No seu Art. 60.°, 2 - alínea d) é referido que eles devem estar “identificados pela respetiva braçadeira”.
O artigo seguinte (61.°, número 2) vai mais longe, ao afirmar que “têm que ter braçadeira ou credencial que os identifique”.
Dito isto, a pergunta é muito simples:
- Estará um árbitro legitimado para sancionar disciplinarmente uma pessoa que não cumpra com aquela premissa ou a eventual sanção deve ser da responsabilidade exclusiva do organizador?
Ou seja, pode um árbitro advertir um treinador que não violou diretamente as leis de jogo, porque incumpriu numa disposição regulamentar?
Eu acho que não pode.
A única entidade responsável por essa ocorrência é a Liga Portugal, se o seu representante (ou o próprio árbitro) fizerem menção disso no relatório de jogo.
O que um árbitro, qualquer árbitro, pode é deve punir é a desobediência reiterada a um pedido/indicação que dê a quem está no banco. Aí, sim, as leis de jogo já protegem e legitimam a decisão.
Parece-me (e esta é só uma opinião pessoal) que, mais importante do que refletirmos sobre quem tem legitimidade para fazer o quê, é percebermos que há situações que exigem bom senso.
Bom senso de parte a parte. Bom senso de todos.
Se os clubes aprovaram livremente um regulamento que obriga os seus técnicos a usarem braçadeiras, então devem cumprir. Devem usá-las. Ou isso, ou propor a alteração da norma em sede própria.
Já os árbitros devem perceber que já se viu de tudo no futebol e que quando algo de novo acontece, estranhamos.
A verdade é que este tipo de incumprimentos não é novo e já aconteceram nesta e noutras paragens, centenas de vezes. Devo confessar que não me recordo (e pode ter acontecido, atenção) de algum treinador, médico, delegado ou fisioterapeuta que tenha sido advertido por esse motivo.
Mais importante:
- Não estará na altura dos clubes aprovarem o fim deste preceito, hoje perfeitamente inócuo? Conhecem muitos campeonatos de topo onde esta norma exista? Pensem nos Big Five, nas maiores provas da UEFA ou da FIFA...
Veem muitos técnicos com braçadeiras no braço? Não, pois não?
É pensar nisso para evitar isto.