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José Costa

José Costa

Velejador olímpico

A transição entre o atleta e o futuro treinador

O treinador e velejador olímpico escreve sobre o momento ao qual todos os atletas chegam, seja cedo ou tarde: a retirada da competição. Depois, explica, pode vir a transição para técnico e “um bom atleta não é necessariamente um bom treinador, mas tem todo o potencial para sê-lo”. Esta é uma parceria entre a Tribuna Expresso e o Comité Olímpico de Portugal, com crónicas de atuais e antigos atletas

José Costa

Phil Walter/Getty

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Todos os atletas mais tarde ou mais cedo passam pelo dilema de quando pôr fim à sua carreira. Nunca é uma tarefa singela a de deixar o foco para o qual se viveu, na maioria dos casos, durante grande parte da vida.

Com mais ou menos dificuldade todos acabam por abraçar uma nova fase, havendo os que se afastam totalmente daquilo que foi o seu quotidiano até então, e os que de alguma maneira permanecem ligados. Uma das formas de potenciar todos os anos de entrega e dedicação, seguindo a par com a modalidade, é a carreira de treinador.

O paradigma do treinador em Portugal está a meu ver em mudança. Deixou a antiga imagem daquele que por força da sua atividade profissional vai, nas horas pós-laborais ao local de treino, dar três “gritos” aos atletas para que estes deem o seu máximo; para ser uma pessoa que se dedica à equipa na sua plenitude, que estuda e se atualiza e procura formas de potenciar o que de melhor o atleta detém.

Verdade é que na passagem para o corpo técnico, o antigo atleta tem sempre presente as necessidades que enquanto no ativo gostaria de ter visto colmatadas, suprindo aquelas que foram as lacunas sentidas enquanto do outro lado “da linha de partida”.

A mais-valia que um treinador terá ao ter sido atleta, ou que um atleta terá se desejar ser treinador, será “tão somente” o facto de já ter vivido por dentro todo o processo para chegar ao mais alto nível.

Este conhecimento interno atalha caminho e deverá permitir transmitir ao atleta tranquilidade e fiabilidade no processo. Deverá ser uma ferramenta de criação empática entre treinador e o(s) seu(s) instruendo(s), além de constar um aproveitamento da melhor forma de todos os anos de vivência enquanto atleta, bem como de todos os recursos que o País investiu no atleta ainda no ativo.

Não obstante, nem só da sua experiência passada poderá sobreviver um bom treinador. A aprendizagem do seu novo papel dentro das estruturas desportivas é fundamental para o sucesso nas novas funções. O conhecimento de áreas que não somente do foro técnico é preponderante para o novo treinador. Neste campo há ainda alguma resistência no que toca ao estudo e formação de quem se quer inserir na vanguarda do desporto de alto nível. Um bom atleta não é necessariamente um bom treinador, mas tem todo o potencial para sê-lo!

Numa lógica paradoxal, o público em geral quer resultados dos nossos atletas, mas “fere-lhe” os números do ainda parco investimento nesta grande área da saúde que é a atividade física e o desporto. Ora uma das grandes formas de melhor rentabilizar o que temos no País é precisamente

dar oportunidade aos que já vivenciaram e agora querem tentar ajudar os demais, tornando-os mais e melhores do que alguma vez os seus antecessores conseguiram, seguindo a velha máxima da superação.

  • Uma questão de concessões
    Crónica

    Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, escreve sobre igualdade de género e estereótipos sociais (após ter revisto o filme A Pequena Sereia) neste regresso da parceria entre a Tribuna Expresso e o Comité Olímpico de Portugal, com crónicas de atuais e antigos atletas