Oferece-se uma recompensa a quem conseguir encontrar “uma seleção com brilho, qualidade e uns valores incríveis”. Roberto Martínez deu-nos uma pista ao dizer que a viu em Alvalade, no Portugal-Dinamarca. No entanto, terá sido um vislumbre só ao treinador entregue. Não nos fiemos no que parece um momento desprovido de sensatez.
A bajulação citada é de alguém consolado pelo apuramento para a Final Four da Liga das Nações. De facto, Portugal vai estar em junho na Alemanha a discutir a conquista de uma competição que já venceu. Enfrentará nessa fase equipas da sua gama, seleções com possibilidade bisbilhotarem as fases adiantadas de Europeus e Mundiais. Será uma preciosa ajuda para perceber se ultrapassar a Dinamarca não foi apenas escamotear o desnorte.
Francisco Trincão entrou aos 81 minutos. Foi a segunda substituição de Roberto Martínez no encontro. A escassa utilização do jogador na seleção, assim como o timing em que foi lançado, supriam firmeza à aposta. Valha-nos que o extremo do Sporting tinha mesmo algo dentro de si, uma substância que começou a ser agitada nas primeiras correrias dentro do campo e quebrou as paredes da sua alma para se colocar à vista de todos. Serviu-se de pouco tempo para forçar o prolongamento e depois decidir a eliminatória.
Com Roberto Martínez, Trincão tem agora 72 minutos distribuídos por três encontros. Cristiano Ronaldo, com arqueológicos 40 anos, realizou mais do dobro só nas duas mãos dos quartos de final da Liga das Nações. É a diferença no aproveitamento que cada um faz do tempo de jogo que deveria levar o selecionar a abdicar da insuportável subserviência a figuras do passado. O saudosismo é peso dispensável na intenção de seguir em frente e ocupa o espaço de quem verdadeiramente pode ajudar ao progresso.
Na mente do espanhol estarão também as explicações para outros fenómenos. Esperemos que Francisco Conceição tenha levado proteção adequada para o estágio, pois passar da bancada para o onze inicial é um salto muito grande entre a 1.ª mão e a 2.ª mão. Esperemos que não se tenha magoado. Pedro Neto fez o percurso inverso. É verdade que os jogadores precisam de ser geridos para que possam ter desempenhos condizentes com as expectativas. Não menos importante é que Roberto Martínez escolha um grupo capacitado para, em esporádicas janelas internacionais, estar na plenitude. Deixar a ideia que, enquanto orienta a seleção nacional, está preocupado em manter os jogadores frescos para as partidas que vão realizar no Chelsea ou no Manchester City, assumindo funções técnicas que aos clubes dizem respeito, é desgradável.
Talvez por haver sempre um motivo para Portugal estar a meio gás é que a seleção parece reunir cada vez menos adeptos fervorosos, o que torna os ambientes nos estádios uma coisa um pouco amorfa. Por um lado, ainda bem. Seria difícil, se existisse uma claque a sério, que Alvalade não se tivesse revoltado em assobios contra a forma como as coisas estavam, até certo ponto, a correr à equipa. Diga-se que, muitas vezes, os jogadores também não cultivam tal fervor. Numa altura em que nos esforçamos para elevar o debate futebolístico para conversas como a distância entre os elementos da defesa, a coordenação entre setores ou a associação no espaço entre linhas, Portugal faz-nos recuar a análises superficiais como a mera predisposição para calcorrear um pedaço de relva.
Pode nem sempre ser motivador fazer a mala para realizar encontros de vencedor previamente anunciado. É frequentemente a realidade de Portugal, país de vasta produção de talento que torna natural a vitória da maioria dos jogos que disputa. É nesse estatuto que Roberto Martínez se apoia. “Durante dois anos, perdemos dois jogos oficias [Geórgia e Dinamarca]”, regozijou-se. Porém, nessas 23 partidas a sério, apenas uma foi contra um morador do top-10 do ranking da FIFA. No caso, trata-se da congénere França, que eliminou Portugal do Euro 2024. Alargando o levantamento a adversários do top-20, a seleção também mediu forças com a Croácia, empatando um dos jogos e vencendo outro pela margem mínima. Como não parece que Roberto Martínez acredite que vá jogar a final de um Europeu ou de um Mundial frente ao Liechtenstein, socorrer-se destes números não é o melhor ponto de partida para fazer um diagnóstico do momento da equipa e da capacidade que esta pode vir a ter para ganhar torneios do futuro.
Roberto Martínez fez menção à calvície que o assolou ao tornar-se treinador e deu destaque à trabalheira que o ofício lhe dá. Neste momento, parece querer colocar todo o país careca com as decisões que desfazem o manto de elegância que se imaginava que Portugal pudesse vestir. Ver “brilhantismo” no que tem acontecido é ser guiado por padrões de pouca exigência.
O que se passou
Zona Mista
Nos últimos 100 metros, estava toda rota já, mas eu queria tanto que foi só abrir o coração
Portugal trouxe uma medalha dos Mundiais de pista coberta. Patrícia Silva conseguiu o bronze na final dos 800 metros e garantiu a única ida ao pódio da delegação nacional presente em Nanjing. Além da atleta do Sporting, outros atletas disputaram as finais das respetivas disciplinas. Isaac Nader alcançou o quarto lugar nos 1.500 metros e Salomé Afonso ficou em oitavo na mesma distância. Gerson Baldé terminou em oitavo no salto em comprimento. No lançamento do peso, Jéssica Inchude ocupou o sexto posto e Auriol Dongmo o oitavo.
O que vem aí
Segunda-feira, 24
🚴 Volta à Catalunha: etapa 1 (14h15, Eurosport 2)
⚽ Qualificação para o Mundial: Guiné-Bissau-Burkina Faso (16h, Sport TV2); Inglaterra-Letónia (19h45, Sport TV1)
🎾 Masters 1.000 de Miami: vários jogos (15h, Sport TV3 e DAZN)
🏀 NBA: Orlando Magic-Los Angeles Lakers (23h, Sport TV2)
Terça-feira, 25
🚴 Volta à Catalunha: etapa 2 (14h15, Eurosport 2)
⚽ Qualificação para o Mundial: Angola-Cabo Verde (16h, Sport TV1)
🤾🏻 Liga Europeia: Benfica-GOG (19h45, Benfica TV)
🏀 NBA: Miami Heat-Golden State Warriors (23h30, Sport TV4); Indiana Pacers-Minnesota Timberwolves (23h, Sport TV6)
Quarta-feira, 26
⚽ Qualificação para o Mundial: Argélia-Moçambique (21h, Sport TV6); Argentina-Brasil (00h, Sport TV1)
🏀 NBA: Detroit Pistons-San Antonio Spurs (00h10, Sport TV4)
🚴 Volta à Catalunha: etapa 3 (14h15, Eurosport 2)
⚽ Liga dos Campeões feminina: Lyon-Bayern Munique (17h45, DAZN); Arsenal-Real Madrid (20h, DAZN)
🏀 NBA: Indiana Pacers-Los Angeles Lakers (23h30, Sport TV1); New York Knicks- Los Angeles Clippers (23h30, Sport TV2)
Quinta-feira, 27
🚴 Volta à Catalunha: etapa 4 (14h15, Eurosport 2)
⚽ Liga dos Campeões feminina: Barcelona- Wolfsburg (17h45, DAZN); Chelsea-Manchester City (20h, DAZN)
🏀 NBA: Cleveland Cavaliers-San Antonio Spurs (23h, Sport TV1)
Sexta-feira, 28
🚴 Volta à Catalunha: etapa 5 (13h15, Eurosport 2)
⚽ Primeira Liga: Gil Vicente-Benfica (20h15, Sport TV1)
🏀 NBA: Detroit Pistons-Cleveland Cavaliers (23h, Sport TV5)
Sábado, 29
🏀 NBA: Minnesota Timberwolves-Phoenix Suns (00h, Sport TV1)
⚽ Taça de Inglaterra: Fulham-Crystal Palace (12h15, Sportv TV2)
🚴 Volta à Catalunha: etapa 6 (13h15, Eurosport 2)
🤾🏻 Campeonato: Sporting-Benfica (15h, Sporting TV)
⚽ La Liga: Espanhol-Atlético Madrid (15h15, DAZN); Real Madrid-Leganés (20h, DAZN)
⚽ Primeira Liga: Estrela Amadora-Sporting (18h, Sport TV1): Sp. Braga-Arouca (20h30, Sport TV2)
🏍️ Moto GP: corrida sprint do Grande Prémio das Américas (20h, Sport TV4)
🎾 Masters 1.000 de Miami: final feminina (20h, DAZN)
🏀 NBA: Orlando Magic-Sacramento Kings (21h, Sport TV1)
Domingo, 30
🏀 NBA: Oklahoma City Thunder-Indiana Pacers (00h, Sport TV3)
🚴 Volta à Catalunha: etapa 7 (13h15, Eurosport 2)
⚽ La Liga: Barcelona-Girona (15h15, DAZN); Real Bétis-Sevilha (20h, DAZN)
⚽ Taça de Inglaterra: Bournemouth-Manchester City (16h30, Sport TV3)
⚽ Primeira Liga: Estoril- FC Porto (18h, Sport TV1)
⚽ Serie A: Nápoles-AC Milan (19h45, Sport TV3)
🏍️ Moto GP: corrida principal do Grande Prémio das Américas (20h, Sport TV4)
🎾 Masters 1.000 de Miami: final masculina (20h, Sport TV7)
🏀 NBA: Cleveland Cavaliers- Los Angeles Clippers (20h30, Sport TV6)
Hoje deu-nos para isto
Qualquer coisa como 24,3 milhões de pessoas fizeram os seus prognósticos para o derradeiro torneio do basquetebol universitário dos Estados Unidos. A cada jogo, uma equipa é eliminada sem direito a repescagem ou segunda mão. O formato propicia o chamado tudo é possível. Nenhum dos quadros competitivos desenhados pelas cabeças que se julgavam adivinhadoras foi o correto. Aliás, já se sabe disso quando ainda estão por chegar os oitavos de final. A última aposta com possibilidade de acerto acabou por se dissolver com a vitória de Kentucky contra Illinois.
A loucura de março é sempre imprevisível. O maior prospect masculino português, Rúben Prey, acabou por ser eliminado na segunda ronda, quando St. John's cedeu perante Arkansas. Quem permanece vivo é Cooper Flagg, o talento que as equipas da NBA mais desejam. O jogador que chegou a treinar com a seleção norte-americana na preparação para os Jogos Olímpicos de Paris, numa altura em que ainda nem tinha entrado na faculdade, tem feito subir o favoritismo quanto à possibilidade de Duke conquistar o título nacional. Além disso, espera-se que seja o quarto jogador dos Blue Devils a ser selecionado com a pick mais alta do Draft da NBA (pode é ainda não ser no próximo) desde 2011.
No March Madness não têm surgido apenas equipas e jogadores surpreendentes. Amir Khan, cognominado “Aura”, tornou-se numa das figuras do torneio. Trata-se de um treinador-estudante de McNeese que foi gravado a cantar com os seus atletas. A capacidade para interpretar a palavrosa “In & Out”, do rapper Lud Foe, tornou-o viral nas redes sociais.
Os óculos retangulares e a figura pequena e roliça de Amir fizeram furor. Nos jogos da universidade do estado de Louisiana, as pessoas começaram inclusivamente a usar t-shirts com a sua cara. O humor da situação tornou-se num assunto bastante sério para os seus bolsos. Nos últimos dias, o adjunto de Will Wade celebrou dezenas de acordos publicitários que lhe valeram, de acordo com a Bleacher Report, mais de 100 mil dólares. Um fenómeno que ajuda a lembrar que o basquetebol universitário norte-americano não é uma brincadeira de meninos.
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