Um Mundial de clubes mais similar ao Mundial de seleções atual e atenção para não estragar o que está bom. Estas serão as duas principais ideias a retirar da derradeira conferência de imprensa de Gianni Infantino em Doha, quando já se respiram os últimos ares do Mundial do Catar.
Uma conversa que olhou para o último mês, mas também para o que aí vem. Sem surpresa, o presidente da FIFA disse que o primeiro Mundial organizado no Médio Oriente foi “o melhor de sempre”, frisando a “atmosfera amigável”, com os adeptos “unidos, talvez a esquecer os problemas entre si e a divertirem-se”.
Do ponto de vista desportivo, Infantino salientou o facto de “pela primeira vez, equipas de todos os continentes passarem para a fase a eliminar” e de também pela primeira vez termos assistido a “uma mulher a apitar um jogo”, Stéphanie Frappart, de França. “E ela esteve muito bem”, continuou o itálo-suíço. Terá ficado por perguntar, no entanto, a razão pela qual a juíza gaulesa não apitou mais do que um jogo, num Mundial marcado por arbitragens bem abaixo da qualidade exigida num torneio desta dimensão.
No capítulo das novidades, a maior será a transformação do Mundial de clubes. Competição tantas vezes olhada de lado pelos adeptos e pelas próprias equipas, deverá a partir de 2025 adotar um formato semelhante ao dos Mundiais de seleções - pelo menos, este último: 32 equipas e de quatro em quatro anos, abandonando assim a FIFA a cadência anual da prova, que deverá substituir no calendário a Taça das Confederações.
“Todos os detalhes serão debatidos e concretizados nas próximas semanas”, assegurou o líder da FIFA, esperando-se que a primeira edição se possa realizar na América do Norte, como forma de preparar o Mundial de seleções do ano seguinte.
Infantino anunciou ainda que o Mundial de futsal feminino, uma pretensão antiga das atletas, que este ano já se manifestaram contra essa discriminação, deverá mesmo avançar.
Formato do Mundial de 2026 a repensar
Com o alargamento do Mundial a 48 equipas, ainda não há certezas sobre possíveis mudanças no formato na fase de grupos, a menos de quatro anos da próxima edição. A ideia de distribuir as equipas em 16 grupos de três seleções parece estar a perder força, muito por culpa da eletrizante fase de grupos deste Mundial, com decisões até ao derradeiro segundo.
“Tenho de dizer que, depois deste Mundial e do sucesso dos grupos de quatro… aqui os grupos de quatro foram absolutamente incríveis. Temos de rever e discutir novamente o formato - 16 grupos de três ou 12 grupos de quatro? É algo que estará na agenda nas nossas próximas reuniões”, sublinhou Infantino.
O legado do Mundial 2022
Surpreendendo muito pouca gente presente na sala, Gianni Infantino deixou loas ao sucesso do Mundial em termos de legado para o mundo árabe, um “legado transformador”, disse. “Muita gente veio ao Catar e descobriu o mundo árabe, que não conhecia. E ao mesmo tempo, os catarenses prepararam-se para dar as boas-vindas a toda a gente, de todos os lugares. Todos perceberam que o que se dizia e se pensava não era o correto”, afirmou.
Infantino admitiu ainda que uma das principais preocupações da organização era a questão da segurança: “Não estávamos certos se iria haver confrontos ou não. Mas vimos que os seres humanos são fundamentalmente positivos e bons. As pessoas uniram-se”.
Se é verdade que não se assistiram a grandes enfrentamentos entre adeptos durante o Mundial, o país que estes adeptos deixarão continuará a não respeitar os mais básicos direitos humanos, continuará a olhar para as mulheres como um ser inferior e a impedir os direitos das comunidades LGBTQI+. No início do Mundial, a FIFA não permitiu que várias seleções europeias envergassem a braçadeira do projeto “One Love”, com as cores do arco-íris. E sobre essa proibição, continuam as palavras vagas de Infantino.
“Há culturas diferentes, formas diferentes de ver as coisas. A FIFA tem de olhar para todos. Não podemos discriminar as pessoas com base nos seus valores e sentimentos. Quando falamos de proibições… foi uma questão de respeitar os regulamentos”, tentou explicar.
“Em campo, joga-se futebol. É preciso respeitar o futebol, respeitar o campo. Os regulamentos existem para proteger as 211 seleções da FIFA”, continuou.