Escrevi eu aqui que nos cabia desmanchar os prazeres dos marroquinos com arte e crueldade, como os bons vilões de cinema que éramos, e afinal foram os marroquinos que, com crueldade e arte, e alguns paus e pedras, destruíram o nosso sonho. A defender, encerraram o jogo num minifúndio sobrepovoado entre o bico da grande área e a linha de meio-campo. Raramente aplicaram pressão alta porque não lhes convinha. E quase sempre saíram com grande engenho da pressão alta de Portugal – aqui foram artistas. Depois do golo – um salto impossível de En-Nesyri – foram cruéis. E valentes na entrega. E merecedores da sorte em certos lances.
O que nos faltou foi uma antonomásia
Por estranho que pareça, a vantagem inicial era dos marroquinos. Porquê? Ia-se jogar de acordo com as regras e o guião deles. Isso foi assumido por todos. Mas se é para atirar causas da desgraça para o ar, Bruno Vieira Amaral também tem uma: nunca devíamos ter enfrentado os Leões do Atlas sem uma alcunha de ressonâncias homéricas. Os Cavalos da Lusitânia, os Milhafres da Ibéria, os Burros do Condado. Havia tantos e tão bons sobrenomes à escolha e fomos a campo sem uma proteção mítica
11.12.2022 às 14h03

KIRILL KUDRYAVTSEV/Getty
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