Enquanto crianças, para Jordan e André Ayew o futebol era mais do que um sonho ou objetivo: era a única hipótese. O pai dos dois jogadores do Gana é Abedi Pelé, ex-jogador que marcou o futebol africano na década de 80, e por mais que o mítico médio atacante nunca tenha colocado pressão nos filhos para seguirem os seus passos, o futebol era tudo o que eles conheciam.
“O nosso pai nunca nos pressionou para nos tornarmos futebolistas, mas não tínhamos escolha. O futebol esteve sempre na televisão. A partir daí, não se pode fazer mais nada. Até os meus tios eram futebolistas. Somos uma família de futebolistas”, disse Jordan ao “Modern Ghana”.
André é o mais velho desta dupla. Começou a formação no TSV 1860 Munich, seguindo os passos do pai à risca, como fez algumas vezes ao longo da sua carreira. Depois dos primeiros passos no clube alemão onde o pai jogou na reta final da carreira, seguiu-se o Nania, no Gana, onde Abedi se tornou presidente, antes de se juntar ao Marselha, onde se tornou profissional em 2007. Um dos primeiros momentos em que deu mais nas vistas foi contra o FC Porto, num jogo para a Liga dos Campeões que o Marselha perdeu. Nessa altura começou a atrair o interesse de outros clubes e chegou a estar perto do Arsenal, mas o Marselha recusou o negócio.
André Ayew
Shaun Botterill - FIFA
Depois vieram dois empréstimos, ao Lorient e Arles-Avignon, da Ligue 2, até que regressou definitivamente a Marselha, onde viveu um período mais positivo. Didier Deschamps prometeu-lhe tempo de jogo e em 2010 assinou um novo contrato de três anos.
A partir daqui o jogador entrou num período de várias mudanças. Primeiro a transferência gratuita para o Swansea City. Pouco mais de um ano depois, juntou-se ao West Ham United. Em 2018 regressou ao País de Gales com o Swansea, mas acabou por ser emprestado ao Fenerbahçe. Em 2020 volta a ir buscar inspiração à carreira do pai e assina pelo Al Sadd, do Catar.
O percurso de Jordan não foi muito diferente. Começou no Marselha, onde assinou o seu primeiro contrato profissional em 2009. Seguiu-se o Sochaux e o Lorient, antes de se mudar para a Premier League, ao serviço do Aston Villa. Em 2017 mudou-se para o Swansea e acabou por jogar ao lado do irmão, quando este regressou para uma segunda experiência no clube. O Crystal Palace seria a sua próxima paragem, e última até agora.
Estes dois percursos tiveram várias coisas em comum, mas a mais significativa e aquela que só alguns jogadores conhecem foi o facto de os dois terem jogado sempre na sombra da história do pai. "Há pressão por ser um Ayew, é claro. Sempre que se chega a algum lado as pessoas dizem: 'É por causa do pai dele'. Se penso que a minha carreira teria sido mais fácil se eu não fosse um Ayew? Teria certamente sido diferente", disse Jordan ao “Daily Mail”.
Maddie Meyer - FIFA
Abedi 'Pelé' Ayew foi o primeiro futebolista africano a ganhar a Liga dos Campeões no seu formato atual, com o Marselha em 1993. Não é de estranhar que seja conhecido como “Pelé”, visto que é muito idolatrado no seu país.
"O que era difícil era as pessoas estarem sempre a falar do meu pai e do que ele tinha feito, sempre a quererem vê-lo em mim", confessou André aos jornalistas há cerca de 10 anos. Hoje, com vários anos no futebol de elite, André já tenta olhar para tudo de outra forma e focar-se apenas na inspiração que a carreira do pai é para a sua e para a do irmão.
“As pessoas lá [no Gana] esperam muito de nós. Por vezes quando jogo pela seleção, vejo a minha família no estádio e vejo os seus rostos, é como se tivessem mais pressão do que nós. Por vezes, a minha mãe e as minhas tias não conseguem ver porque ouvem os comentários das pessoas à sua volta. É apenas um jogo de futebol. Mas estou realmente orgulhoso de fazer parte desta família. O meu pai elevou a fasquia muito alta. Ele deixou-nos orgulhosos e elevou a família a um novo nível”, disse Jordan ao “Daily Mail”.
O que a família ouve nas bancadas talvez não seja muito distinto daquilo que os próprios jogadores têm ouvido ao longo dos anos de seleção nacional, inclusive nos últimos meses. Jordan e André Ayew nem sempre foram elogiados pelos adeptos, com alguns a defenderem que não fossem sequer convocados para o Mundial no Catar. Talvez aqui também esteja em causa a expectativa que têm de voltar a ver o futebol do pai nos pés dos filhos.
"Por vezes quando as pessoas dizem que os irmãos Ayew não são amigáveis, pergunto-me como", disse Majeed Ashimeru, jogador do Gana, ao canal Joy Prime. "Eles são muito amigáveis e fazem com que as pessoas se sintam realmente confortáveis na equipa".
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E o pai? Qual é a expectativa de Abedi Pelé em relação aos filhos?
"Tento falar com ele o máximo que posso, talvez nove vezes por semana. Mas o meu pai pode ser muito duro. Por vezes as coisas eram fáceis para ele e ele pensa que deveriam ser fáceis para mim. Ele é muito crítico em relação a nós, mas de uma boa maneira. Ele é um perfecionista e tenta certificar-se de que estamos a trabalhar todos os dias. Ele apoia todas as nossas equipas", contou Jordan.
Esta quinta-feira, a partir das 16h de Lisboa, os irmãos terão nova oportunidade para construir o seu próprio legado. E logo frente a Portugal.