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Mundial 2022

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Cores, frases, gestos: quando os direitos humanos entram em campo

No Catar, a homossexualidade é crime e as mulheres são discriminadas. Jogadores que iam usar braçadeiras com as cores do arco-íris no Mundial de futebol já não o vão fazer. O Expresso recorda protestos e manifestações que têm marcado o desporto nos últimos anos

Sofia Correia Baptista

Stu Forster

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A polémica em torno dos direitos humanos no Catar, onde começou o Mundial de futebol no domingo, está na ordem do dia. Nesta segunda-feira soube-se que os capitães das seleções dos Países Baixos, Alemanha, Inglaterra, País de Gales, Suíça, Bélgica, Dinamarca e França, ao contrário do planeado, não iriam usar uma braçadeira com um coração, as cores do arco-íris e a expressão “One Love” – em apoio à comunidade LGBT+ –, depois de a FIFA ter ameaçado com sanções.

Os jogadores da seleção do Irão, liderada pelo treinador português Carlos Queiroz, não cantaram o hino no primeiro jogo, enquanto os ingleses ajoelharam-se antes do apito inicial. Mas protestos contra a discriminação e manifestações pela defesa dos direitos humanos não são uma novidade no desporto. Ao longo dos últimos anos, têm sido várias as ações de atletas em diferentes modalidades e competições. O Expresso recorda alguns momentos marcantes.

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Horas depois da cerimónia de abertura falar de “inclusão” e “união dos povos”, a FIFA deixou claro às federações europeias participantes na iniciativa que os seus jogadores poderiam sofrer sanções desportivas caso entrassem em campo com a braçadeira de apoio à inclusão. A amostragem de cartão amarelo seria uma delas, condicionando desde logo o jogador. Federações falam de decisão “sem precedentes” e “desapontamento”

Cores do arco-íris

Stephen Pond - PA Images

Foi em 2013 que a organização não-governamental Stonewall, em conjunto com a Premier League, criou a campanha “Rainbow Laces”, com o objetivo de apoiar a inclusão LGBT+ no desporto.

Além do uso de atacadores com as cores do arco-íris por jogadores e árbitros da liga inglesa, há outros acessórios que, desde então, visam a sensibilização – como braçadeiras de capitão ou bandeiras de canto.

“I can’t breathe”

Noel Vasquez

Em julho de 2014, Eric Garner ofereceu resistência quando a polícia o estava a deter, em Nova Iorque. Um agente estrangulou-o e, no vídeo que registou o momento, a frase “I can’t breathe” (não consigo respirar) é ouvida 11 vezes. Perdeu a consciência e foi declarado morto já no hospital.

Em dezembro do mesmo ano, jogadores da equipa dos Los Angeles Lakers utilizaram uma t-shirt com a frase de Garner durante o aquecimento do jogo com os Sacramento Kings. “É importante que tenhamos as nossas opiniões. É importante que defendamos aquilo em que acreditamos e não temos todos de concordar, e está tudo bem. É isso que faz deste um belo país”, afirmou Kobe Bryant após a partida.

Ajoelhado durante o hino

Michael Zagaris

Em agosto de 2016, Colin Kaepernick, jogador de futebol americano dos San Francisco 49ers, permaneceu sentado durante o hino dos Estados Unidos no início do último jogo de pré-época da equipa. Durante as partidas da temporada da liga NFL, passou a ajoelhar-se nesse momento. O protesto contra a discriminação racial no país causou um forte impacto mediático e atravessou fronteiras.

“Não me vou levantar para mostrar orgulho numa bandeira de um país que oprime os negros e as pessoas de cor. Para mim, isto é maior do que o futebol e seria egoísta da minha parte olhar para o lado”, explicou na altura. O quarterback de 35 anos não joga desde janeiro de 2017, mas não deixou de treinar. Conta a sua história em “Colin a Preto e Branco”, série da Netflix lançada no ano passado, e criou a campanha “Know Your Rights Camp”, destinada à formação dos mais jovens.

Homenagens a George Floyd

Mark Thompson

No Grande Prémio da Áustria, em julho de 2020, pilotos da Fórmula 1 – entre os quais Lewis Hamilton – ajoelharam-se na grelha de partida, enquanto vestiam t-shirts com as mensagens “End racism” (fim ao racismo) e “Black lives matter” (vidas negras importam).

O protesto ganhou força após a morte de George Floyd, afro-americano de 46 anos que morreu durante uma detenção, em Minneapolis, quando um polícia pressionou o joelho contra o seu pescoço durante cerca de nove minutos.

Pool

Ainda em julho de 2020, os atletas da NBA também prestaram homenagem a Floyd. A liga norte-americana de basquetebol e o sindicato de jogadores acordaram uma lista de mensagens de justiça social que os jogadores puderam escolher para inscrever na camisola no lugar do apelido.

Euro 2020

picture alliance

O Euro 2020, disputado no ano seguinte devido à pandemia de covid-19, também foi palco de várias ações ativistas. Jogadores como o guarda-redes alemão Manuel Neuer e o inglês Harry Kane usaram braçadeiras arco-íris durante os jogos.

No mesmo evento, um pedido da Associação Alemã de Futebol e do presidente da câmara de Munique para que a Allianz Arena fosse iluminada de arco-íris no jogo contra a Hungria foi negado pela UEFA. O intuito era contestar uma nova lei húngara que proibia a divulgação nas escolas de conteúdos considerados como promotores da homossexualidade e da mudança de género.

Contra o racismo e a violência policial, vários jogadores de diferentes seleções ajoelharam-se e ergueram punhos cerrados antes do início dos jogos, entre os quais portugueses e belgas, nos oitavos de final.

Jogos da Commonwealth

PAUL ELLIS

Já este ano, o medalhado olímpico Tom Daley protestou contra a intolerância com a comunidade LGBT+ na cerimónia de abertura dos Jogos da Commonwealth, em julho. O atleta britânico, especialista em saltos para a água, entrou no estádio com outros ativistas com a bandeira arco-íris.

“Em mais de metade dos países da Commonwealth, a homossexualidade ainda é um crime e em três desses países a pena máxima é a pena de morte. Estas leis são um legado do colonialismo. Esta cerimónia de abertura para nós é sobre mostrar a visibilidade LGBTQ+ aos biliões de pessoas que assistem”, justificou Daley.