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Jogos da Commonwealth vão permitir o que os Olímpicos não autorizam: atletas a usarem o pódio para protestarem a favor de causas

Jogos da Commonwealth vão permitir o que os Olímpicos não autorizam: atletas a usarem o pódio para protestarem a favor de causas

Apesar de algumas linhas vermelhas, como gestos de ódio, os cerca de 4.500 participantes no evento desportivo que reúne antigas e atuais colónias britânicas vão poder, por exemplo, erguer o punho e apoiar movimentos como o Black Lives Matter, ou mostrar o apoio à causa LGBT+

Durante os Jogos da Commonwealth, mesmo quando sobem ao pódio, os atletas estarão autorizados a mostrar o seu apoio às causas que defendem, desde que não sejam exibidos quaisquer gestos de ódio. Dois dos exemplos mais flagrantes de entre os protestos permitidos são o movimento Black Lives Matter ou a defesa dos direitos LGBT+. O “The Guardian” refere que os participantes, na chamada “volta da vitória”, poderão celebrar com bandeiras do arco-íris, símbolo da comunidade LGBT+.

A mesma fonte revela que os 4.500 atletas esperados na cidade inglesa de Birmingham, este verão — a prova está agendada para entre 28 de julho e 8 de agosto —, serão também autorizados a subir ao pódio com roupa e acessórios relacionados com causas sociais. É uma alteração radical das regras anteriormente em vigor, num pacote de novos “princípios-guia” para os atletas.

A decisão dos organizadores dos Jogos da Commonwealth motivou reações positivas de muitos desportistas e apoiantes dos direitos humanos. No entanto, o Comité Olímpico Internacional continua a proibir qualquer tipo de protesto no pódio, na pista ou durante as cerimónias.

O “The Guardian” lembra o que se passou nos Jogos Olímpicos do México, em 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos usaram uma saudação black power no pódio, como protesto contra a injustiça racial nos Estados Unidos da América. Dois dias mais tarde, ambos os atletas foram expulsos dos Jogos. O então presidente do Comité Olímpico Internacional, Avery Brundage, deu ele próprio a ordem de expulsão.

Segundo o jornal inglês, a atitude dos Jogos da Commonwealth surge como uma esperança de que, ao permitir uma maior liberdade de expressão em Birmingham, se dê aos atletas a hipótese de se transformarem em “agentes de mudança que tornem o mundo melhor”.

Durante o evento, serão também permitidas bandeiras dos povos aborígenes, algo que gerou polémica em 1994, também nos Jogos da Commonwealth, dessa vez realizados em Victoria, estado na Austrália. Cathy Freeman transportou a bandeira australiana e a do seu povo, depois de vencer os 400 metros. Na altura, Freeman foi criticada pelo chefe da comitiva australiana: “Ela devia ter levado a bandeira da Austrália e [não devíamos ter sequer visto] a bandeira aborígene”.

As próprias bandeiras do Orgulho Gay poderão gerar controvérsia, tendo em conta que a homossexualidade continua a ser proibida em 36 dos 72 países participantes. Tom Daley, atleta britânico que se assume publicamente como gay, tem muitas vezes afirmado que a Commonwealth deveria estar a fazer mais pelos direitos LGBT+.

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