A alquimia de uma fotografia é espantosa. Há oito anos, no Maracanã, o olho de Bao Tailiang focou em Lionel Messi e agrafou-o à peculiaridade de um momento que lhe valeria a distinção no World Press Photo: durante a subida da escadaria do estádio para receber a medalha de vencido na final do Mundial, em 2014, captou a cara inócua, desolada e vidrada do argentino no troféu, ao cruzar-se com o objeto ali à espera de ser erguido mas no qual não iria tocar. No palco mais apoteótico do futebol, um dos melhores de então e de agora a jogá-lo era eternizado numa imagem cuja beleza, como em tudo, foi inflacionada pelo contexto.
No exercício de estimar quando veremos os picos de carreira de um futebolista, julgava-se que seria no Brasil onde o argentino jogaria no zénite das suas capacidades. Onde, em particular, ele e outro jogador estariam no usufruto dos seus apogeus para os vermos a fazerem-se à conquista do Campeonato do Mundo, numa exigência tão estapafúrdia como os empurrões que davam ao teto do que se acha ser expectável ou possível de ver em quem pontapeia uma bola. A culpa era de Messi, mas, em igual medida, também de Ronaldo, o yang para o yin do argentino. O equilíbrio de uma disputa que banalizou o foco no número de golos que só eles atingiam já desequilibrara, há muito, a noção de existir uma fasquia no futebol.