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Mundial 2022

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Southgate disse que os trabalhadores migrantes do Mundial querem o torneio porque adoram futebol: HRW e Amnistia já responderam

A frase do selecionador inglês, em entrevista à “CNN”, gerou polémica e desconforto, levando organizações como Aminstia Internacional e Human Rights Watch a reagirem. “Os trabalhadores migrantes no Catar não podem falar livremente devido a preocupações de segurança e a federação inglesa devia ser saber isso”

Expresso

James Gill - Danehouse

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Os direitos dos trabalhadores estrangeiros no Catar são uma miragem. Segundo uma contagem do “The Guardian”, morreram cerca de 6.500 migrantes a trabalharem no seguimento da atribuição da organização do Campeonato do Mundo àquele país. Salários baixos, exploração, trabalhos perigosos, condições sanitárias miseráveis nas populosas habitações e até passaportes confiscados são alguns dos relatos habituais.

Apesar de tudo isso, o selecionador inglês optou por, supostamente, falar pelos trabalhadores visados por aquele regime. “Estive no Catar várias vezes e conheci muitos dos trabalhadores de lá e eles estão unidos certamente numa coisa: querem que o torneio aconteça e querem isso porque adoram futebol”, disse, numa entrevista à “CNN”, Gareth Southgate. “Eles querem que o futebol vá ao Catar”, reforçou.

As palavras do ex-futebolista e treinador bateram de frente com as convicções de ativistas e membros de organizações como Human Rights Watch (HRW) e Amnistia Internacional.

“Primeiro, os trabalhadores migrantes no Catar não podem falar livremente devido a preocupações de segurança e a federação inglesa devia ser saber isso”, reagiu, em declarações ao “The Guardian”, Minky Worden, a diretora para as iniciativas globais da HRW.

“Segundo, o Gareth Southgate a federação tentou contactar os migrantes e as famílias daqueles que morreram do Nepal, Índia, Quénia e de outros lados?”, questionou. “Qualquer família que recebeu um ente querido e o ganha-pão num caixão sem a recompensa da FIFA ou do Catar não pode aplaudir a abertura deste Campeonato do Mundo.”

Ao mesmo jornal inglês, Ella Knight, uma investigadora da Amnistia Internacional, desmontou o argumento de Southgate. “Muitos trabalhadores no Catar serão certamente adeptos de futebol, mas o que os migrantes nos contaram é a necessidade de terem os seus direitos totalmente protegidos, de serem pagos adequadamente, de poderem mudar de trabalho livremente e desfrutarem de condições de trabalho seguras e dignas, antes, durante e depois deste torneio.”

E acrescentou: “O Campeonato do Mundo está prestes a realizar-se com reformas laborais vitais ainda muito inacabadas e milhares de abusos dos trabalhadores ainda por resolver. O jogo de abertura está agora a menos de três semanas e a FIFA ainda não se comprometeu a recompensar os trabalhadores e as suas famílias pelos abusos que sofreram. (...) Instamos a federação inglesa a manter a pressão sobre a FIFA, pressionando-a a reconhecer e a enfrentar urgentemente o sofrimento dos trabalhadores sem os quais o Campeonato do Mundo simplesmente não seria possível”.

O Mundial no Catar arranca a 20 de novembro e prolonga-se até 18 de dezembro, o dia da final.