O peculiar fenómeno de vermos uma pessoa a pular da cadeira, a gesticular como quem sofre de um défice de sanidade e a vociferar uma palavra ao longo de uns segundos é uma das magias do futebol. Seja em que idioma for, lá no campo os jogadores festejam e, cá fora, as pessoas normais tornam-se anormais pela reação instintiva e, muitas vezes, estrambólica, ao momento em que a bola entra na baliza da equipa que não apoiam.
É o efeito do golo num jogo de futebol.
Pela primeira vez neste Mundial que se realiza em 2018, uma partida terminou sem que se marcasse um, sem que jogadores, treinadores, adeptos ou pessoas tidas como normais fossem levados pelo momento de rejubilo. Por outras palavras, poderíamos escrever que, em termos puramente numéricos, o Dinamarca-França foi uma seca, porque terminou no redondo 0-0 que os 36 anteriores jogos tinham evitado.
E podemos mesmo escrevê-lo pois, tanto na estatística como no futebol literal, a partida foi enfadonha e sem grandes motivos de interesse, a par deste recorde: já sabíamos que este Mundial batera, uns quantos jogos atrás, a façanha da edição de 1954, realizada na Suíça, quando apenas ao fim de 26 jogos se viu um 0-0.
Agora, esperou-se até ao 37º encontro jogado na Rússia para se assistir a hora e meia sem golos, que neste aspeto teve uma justa assobiadela no final. Num Mundial em que já se marcaram 99 golos e a média de bolas dentro da baliza, por jogo, está nos 2.6, a Dinamarca e a França foram os responsáveis conjuntos por quebrar o ímpeto.
E, depois, há uma coincidência nos franceses que diz respeito aos portugueses - a última vez que a seleção gaulesa ficara em branco num jogo oficial aconteceu faz quase dois anos, num certo jogo em Paris, no Stade de France, com um certo golo de Eder, na final do Campeonato da Europa.