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Miguel Oliveira critica Marc Márquez após o acidente: “Espero que o sancionem. Quando se tem problemas nos travões, trava-se mais cedo”

A coxear e a sentir dores, mas sem fraturas, o piloto português falou aos jornalistas já nas boxes, depois do acidente provocado pelo oito vezes campeão do mundo que tirou ambos do Grande Prémio de Portugal, este domingo. E Miguel Oliveira criticou o espanhol: “Não há incidentes que aconteçam de propósito, isso é claro. [Mas] espero que o sistema funcione, se sancionam outros pilotos, que o sancionem a ele também.”

Diogo Pombo

NUNO VEIGA/Lusa

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Primeiro não iria falar, depois anunciou-se que sim e Miguel Oliveira surgiu, a coxear e de feições sérias, após a desilusão de sair do Grande Prémio de Portugal logo à segunda volta e quando já tinha sido líder da corrida. A coxear e a sentir dores, o português, de 28 anos, colocou-se à mercê dos jornalistas numa espécie de zona pista improvisada nas boxes do Autódromo Internacional do Algarve, de boné posto e a falar em inglês, italiano e português.

Depois de lhe auscultarem a saúde, o piloto garantiu que nada tinha de fraturas e informou que a receita é tomar anti-inflamatórios para lidar com a contusão na perna direita provocada pelo incidente a que as perguntas mais se focaram: o abalroamento que Marc Márquez provocou, à entrada para uma curva, onde levou Miguel Oliveira à frente e tirou ambos da corrida. O espanhol “pediu desculpa” e “as desculpas foram aceites”, contou o português de Almada, que explicou nos vários idiomas que “não há acidentes que aconteçam de propósito”.

Sabendo que o oito vezes campeão do mundo lhe justificou o aparato com um “provável problema num travão”, o piloto de Aprilia criticou-lhe a abordagem veloz à curva ao aperceber-se que a sua mota não abrandaria como ele quereria: “Quando se tem problemas no travões, trava-se antes e não mais tarde para tentar ultrapassar pilotos”. Sem cerimónias nas palavras, Miguel Oliveira espera chegar à próxima corrida na Argentina com o corpo apto e constatar, até lá, que “o sistema funcione” - “se sancionam outros pilotos, que o sancionem a ele também”.

Nem uma hora contada, a organização do MotoGP acedeu e aplicou uma dupla penalização ao espanhol: terá de cumprir duas voltas longas já durante a próxima corrida, na Argentina, a 2 de abril.

O português está bem?

“Sinto m pouco de dor na perna direita, mas nada partido, o que é bastante positivo tendo em conta o acidente. Só compreendi quando o vi depois, em imagens, claro que o Marc travou tarde, foi para lá do limite, não há mais nada a dizer.”

A conversa com Marc Márquez

“Pediu desculpa, claro que sim, há esse respeito. As desculpas foram aceites. Falámos, ele tentou explicar-me a situação dele, que provavelmente teria um problema no seu travão. Mas, quando se tem problemas nos travões, trava-se antes e não mais tarde para tentar ultrapassar pilotos. Espero que o sistema funcione, se sancionam outros pilotos, que o sancionem a ele também.

É uma pena ter-se magoado, travou tarde e foi demasiado otimista. Não há incidentes que aconteçam de propósito, isso é claro, mas talvez ele quisesse ganhar posições logo nas primárias voltas, não foi o melhor sítio para o fazer. De certeza que o sabe melhor do que eu.”

O que aconteceu?

“O incidente em si é bastante fácil de explicar. Foi uma tentativa de ultrapassagem um bocado ambiciosa da parte do Márquez, não tinha espaço para parar, evitou o piloto à frente dele, o Jorge Martín, mas veio para em mim. É o que é. É mais frustrante ainda quando sabemos que podemos fazer um bom fim de semana e um bom resultado. Queria sair melhor para este corrida, fiz um bom arranque, coloquei-me em 1.º, fiz a volta de abertura em 1.º e quando o ‘Pecco’ [Bagnaia] me passou sabia que ainda tinha alguma margem para melhorar, ainda tinha os pneus com pressão um bocadinho baixa e tinha de pôr a mota mais quente.”

A descrição do dissabor

“É demasiado inglório acabar tão cedo, com tanta expetativa que se gerou e apoio que tive, é muito inglório. O objetivo é chegar à Argentina o melhor possível, sem nenhuma lesão incapacitante. Não havendo lesão, temos de arranjar a melhor forma de gerir a dor, é tratamento anti-inflamatório e mais nada. Estou apenas dorido, felizmente não houve qualquer fratura no colo do fémur, ainda vamos fazer um despiste de ressonância a ver se há alguma lesão ligamentar.

É só a primeira corrida, mas estou otimista, consegui andar bem com a mota, andar muito rápido, não é algo que aconteça logo à primeira corrida.”