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Na ditadura de Faith Kipyegon, Salomé Afonso termina final dos 1.500 metros na 12.ª posição

Quatro dedos, quatro títulos mundiais de Faith Kipyegon nos 1.500
Quatro dedos, quatro títulos mundiais de Faith Kipyegon nos 1.500
Hannah Peters

A queniana chegou aos quatro títulos mundiais na distância, vencendo contundentemente com 3.52:15 minutos. A australiana Jessica Hull, bronze, resistiu ao domínio do Quénia, enquanto a portuguesa melhorou brutalmente face ao 37.º lugar de Budapeste 2023

Na ditadura de Faith Kipyegon, Salomé Afonso termina final dos 1.500 metros na 12.ª posição

Pedro Barata

Jornalista

Quando as outras parecem correr agarradas à pista, quando a última curva é feita e vemos atletas de elite com colas que as fixam ao chão e prendem a aceleração, Faith Kipyegon voa. Nada a detém, não há cansaço nem fadiga nem limites, há uma passada larga, confiante, um domínio da cena, da distância, das adversárias, do estádio, de Tóquio inteira.

Um, dois, três, quatro. A queniana cruza a meta e mostra um póquer de dedos. É o número de vezes que foi campeã mundial nos 1.500 metros, num total de cinco ouros na competição, juntando aos da sua prova preferida o dos 5.000 metros em Budapeste 2023. E em Jogos Olímpicos? Campeã nos 1.500 metros no Rio de Janeiro 2016, em Tóquio 2020, em Paris 2024. Uma ditadura é qualquer coisa como isto.

Leve e levitante, Kipyegon, que embarca em aventuras comerciais para fazer a milha em menos de quatro minutos, acentuou o seu domínio no Japão. Esteve sempre no primeiro lugar, não largando a posição que é sua há uma década. Terminou com 3.52:15 minutos.

A festa das quenianas só não foi plena devido a Jessica Hull. A australiana ousou desafiar a ditadora, na última curva fez um assomo de aproximação, mas terminaria mais preocupada com Dorcus Ewoi e Nelly Chepchirchir. Ensanduichada entre quenianas, foi batida por Ewoi, mas resistiu, no limite, a Chepchirchir. Terminaria exausta, louvada pela armada do Quénia.

Mais atrás, Salomé Afonso concluiu em 12.ª. Teve um registo de 4.00:47, perto do seu recorde pessoal de 3.59:32 minutos, conseguido ainda este ano.

Salomé chegou à final de forma conturbada. Inicialmente, a atleta do Benfica foi eliminada na segunda meia-final, com um registo de 4.15,08 minutos, efetuado após uma colisão com a alemão Nele Wessel.

Concluída a eliminatória, a italiana Marta Zenoni, que provocou o incidente, foi imediatamente desclassificada. A ausência da transalpina levou à repescagem de Wessel , seguindo-se a inclusão de Salomé, na sequência de um recurso. Desta forma, eram 14 as mulheres na linha de partida para a distância que, em Atenas 1997, foi vencida por Carla Sacramento, ainda a recordista portuguesa (3.57,71 minutos).

Salomé Afonso, lisboeta de 27 anos, está em clara subida de nível. Foi vice-campeã europeia nos europeus indoor de Apeldoorn e, nesta competição, foi a quinta melhor do seu continente.

Nos primeiros metros, a portuguesa andou na cauda do grupo, mas conseguiu ir galgando posições. Chegou a fazer acreditar que poderia terminar entre as 10 melhores, ficaria como 12.ª. É um crescimento brutal face aos últimos mundiais, quando foi 37.ª em Budapeste 2023.

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