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Mais um voo previsivelmente fantástico: Pedro Pichardo é (novamente) campeão europeu de pista coberta

O português revalidou o título indoor no triplo salto conquistado em 2021, somando mais um ouro para quem é campeão olímpico, do mundo e continental ao ar livre. Ao saltar 17,60 metros, Pichardo estabeleceu, pelo segundo dia seguido, novo recorde nacional, deixando o segundo classificado a mais de um metro de distância. Tiago Pereira foi quarto, com 16,51 metros, a seis centímetros de uma medalha

Pedro Barata

Tolga Bozoglu/Lusa

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Na verdade, só o mais otimista dos adversários poderia pensar contestar o domínio de Pedro Pablo Pichardo nos Europeus de pista coberta de Istambul. O português entrou na Ataköy Arena como favorito no triplo salto e algo de muito estranho teria de acontecer para que esse estatuto não se traduzisse noutra página de glória para quem é campeão do mundo, da Europa e olímpico ao ar livre.

Mas, mesmo assim, a natureza competitiva e quase predatória de Pichardo fá-lo querer sempre mostrar o talento que tem, o poderio que possui, a superioridade quase insultuosa para os rivais. Este é o terreno dele e parece disposto a, uma e outra vez, mostrar quem manda. O primeiro ensaio que fez, com 17,26 metros, já valeria o ouro, visto que nenhum outro atleta se aproximou, sequer, dos 17 metros — o segundo foi o grego Nikolaos Andrikopoulos, com 16,58 metros e o terceiro foi o alemão Max Heß, com 16,57 metros. O outro português na final, Tiago Pereira, foi quarto, com 16,51 metros, a somente seis centímetros do bronze.

O português nascido em Cuba não queria que a marca da final fosse inferior à da qualificação, quando saltou 17,48 metros, de chapéu na cabeça, para alcançar a melhor marca pessoal de 2023 e bater o recorde nacional indoor. E, assim, voltou a fazer-se rumo à caixa de areia com um gesto confiante e sereno, pedindo o apoio das bancadas. Respirou fundo, concentrou-se uns segundos e desatou com aquela corrida potente que antecede o voo. 17,60 metros, novo recorde de Portugal e outra medalha de ouro.

OZAN KOSE/Getty

O festejo foi autoritário e impositivo, mais de um ditador do triplo salto do que de alguém surpreendido por vencer. Depois do ouro em pista coberta em Torun 2021, nova subida ao lugar mais alto do pódio para o multi-campeão da disciplina.

Se Pichardo tem, a nível global, dominado o triplo salto, quando a escala da competição se reduz ao continente o reinado do voador é ainda mais absoluto. Num final de tarde de sexta-feira de glória para Portugal — minutos depois de Pedro Pablo, foi Auriol Dongmo a arrecadar o ouro —, o que fica da ida de Pichardo a Istambul é a previsibilidade do extraordinário, o hábito em ser o melhor, o triunfo que, de tão esperado, quase não tem emoção, só admiração e aplauso.