O diferendo entre judocas do projeto olímpico e a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) conheceu um novo capítulo esta segunda-feira. Telma Monteiro, a mais reputada atleta da modalidade, escreveu nas redes sociais sobre “como vão as coisas com a federação”.
A comunicação, que acontece na véspera de viajar para a primeira competição depois da cirurgia no joelho, começa por referir que a FPJ despediu, esta manhã, a selecionadora Ana Hormigo por e-mail. “Sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada”, acrescenta a judoca, lembrando que se trata de uma competição de apuramento olímpico.
No domingo, escreve ainda Telma Monteiro, o presidente da federação, Jorge Fernandes, informou os presentes na assembleia daquela entidade que “os atletas que escreveram a carta aberta, há uns meses, terão esta semana para se retratarem ou serão levados a tribunal”.
A 11 de agosto, sete judocas portugueses do projeto olímpico denunciaram, numa carta aberta, um “clima insustentável e tóxico” na federação, onde reinava a “discriminação”, exigindo “respeito”. Telma Monteiro, Anri Egutidze, Bárbara Timo, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes e Rodrigo Lopes foram os signatários da carta.
Essa missiva sucedeu a uma outra, enviada, a 13 de julho, a Jorge Fernandes, onde foram impressas três sugestões: participação em estágios internacionais, assim como competições fora do país, de acordo com as necessidades e planeamento de cada atleta com recurso à Bolsa do Projeto Olímpico – planeamento que, aliás, deve ser pensado e organizado em conjunto com o atleta e treinador do mesmo; alteração da exigência da participação em todos estágios nacionais realizados por mês, para um estágio exigido por mês; ajuste do valor pago por deslocação a cada atleta, de acordo com as tabelas oficiais do valor de subsídio de transporte.
No mesmo dia, na tarde de 11 de agosto, o presidente da FPJ negou o clima denunciado pelos atletas, acusando-os de mentir, referindo que se tratava de “uma anedota”. Três dias depois, Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, revelou à Lusa que gostava de ter tido conhecimento dos problemas entre os sete judocas e a respetiva federação antes de ter sido revelada a carta em que denunciam um clima tóxico e de discriminação. “O que se passou pode já ter algum peso na preparação olímpica. Isto foi grande, o que aconteceu”, disse Gomes.
Voltando à publicação de Telma Monteiro, desta segunda-feira, a judoca informou ainda que no sábado, numa reunião de planeamento, os treinadores foram informados que ela e outros atletas já não têm verba do projeto olímpico, que é gerido pela federação, para efetuar o que estava no plano. “De salientar que não compito nem faço estágios desde julho! E que este ano não fiz mais, pelo contrário fiz menos, do que é normal fazer!”, escreveu a atleta do Benfica, medalhada nos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro.
Monteiro referiu ainda que pagou para estagiar no estrangeiro, assim como pagou, garante, despesas relativas à cirurgia no joelho, que aconteceu no dia 22 de agosto. Segundo a atleta, o seguro acionado no seguimento dessa operação, indicado pela federação, não cobriu essas mesmas despesas. “Mandei um mail há uma semana sobre o assunto, não me responderam.” E acrescentou: “E agora, pelo que percebi, se quiser cumprir o meu plano desportivo por inteiro, vou ter de pagar também”.
A fotografia da publicação junta Telma Monteiro e Ana Hormigo. No final da mensagem estão as palavras para a treinadora. “Como atleta quero de alguma forma continuar a ter a tua presença nas competições e espero que as entidades responsáveis intervenham nesse sentido”, desabafou. “Como amiga digo-te que fico feliz que não tenhas mais de lidar diretamente com essa instituição. Que sorte a tua!”
A Tribuna Expresso contactou diretamente o presidente da Federação Portuguesa de Judo para obter um comentário ou reação à publicação de Telma Monteiro. Ainda não obtivemos resposta.