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Ou se retratam ou vão a tribunal: Telma Monteiro revela ameaça do presidente da federação de judo aos atletas que assinaram carta aberta

Além da consequência da carta aberta assinada por sete judocas do projeto olímpico, em agosto, a atleta revelou ainda, num texto publicado nas redes sociais, que a selecionadora Ana Hormigo foi despedida por e-mail esta segunda-feira, na véspera da viagem para uma competição de apuramento olímpico

Hugo Tavares da Silva

SERGEI GAPON/Getty

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O diferendo entre judocas do projeto olímpico e a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) conheceu um novo capítulo esta segunda-feira. Telma Monteiro, a mais reputada atleta da modalidade, escreveu nas redes sociais sobre “como vão as coisas com a federação”.

A comunicação, que acontece na véspera de viajar para a primeira competição depois da cirurgia no joelho, começa por referir que a FPJ despediu, esta manhã, a selecionadora Ana Hormigo por e-mail. “Sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada”, acrescenta a judoca, lembrando que se trata de uma competição de apuramento olímpico.

No domingo, escreve ainda Telma Monteiro, o presidente da federação, Jorge Fernandes, informou os presentes na assembleia daquela entidade que “os atletas que escreveram a carta aberta, há uns meses, terão esta semana para se retratarem ou serão levados a tribunal”.

A 11 de agosto, sete judocas portugueses do projeto olímpico denunciaram, numa carta aberta, um “clima insustentável e tóxico” na federação, onde reinava a “discriminação”, exigindo “respeito”. Telma Monteiro, Anri Egutidze, Bárbara Timo, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes e Rodrigo Lopes foram os signatários da carta.

Essa missiva sucedeu a uma outra, enviada, a 13 de julho, a Jorge Fernandes, onde foram impressas três sugestões: participação em estágios internacionais, assim como competições fora do país, de acordo com as necessidades e planeamento de cada atleta com recurso à Bolsa do Projeto Olímpico – planeamento que, aliás, deve ser pensado e organizado em conjunto com o atleta e treinador do mesmo; alteração da exigência da participação em todos estágios nacionais realizados por mês, para um estágio exigido por mês; ajuste do valor pago por deslocação a cada atleta, de acordo com as tabelas oficiais do valor de subsídio de transporte.

No mesmo dia, na tarde de 11 de agosto, o presidente da FPJ negou o clima denunciado pelos atletas, acusando-os de mentir, referindo que se tratava de “uma anedota”. Três dias depois, Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, revelou à Lusa que gostava de ter tido conhecimento dos problemas entre os sete judocas e a respetiva federação antes de ter sido revelada a carta em que denunciam um clima tóxico e de discriminação. “O que se passou pode já ter algum peso na preparação olímpica. Isto foi grande, o que aconteceu”, disse Gomes.

Voltando à publicação de Telma Monteiro, desta segunda-feira, a judoca informou ainda que no sábado, numa reunião de planeamento, os treinadores foram informados que ela e outros atletas já não têm verba do projeto olímpico, que é gerido pela federação, para efetuar o que estava no plano. “De salientar que não compito nem faço estágios desde julho! E que este ano não fiz mais, pelo contrário fiz menos, do que é normal fazer!”, escreveu a atleta do Benfica, medalhada nos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro.

Monteiro referiu ainda que pagou para estagiar no estrangeiro, assim como pagou, garante, despesas relativas à cirurgia no joelho, que aconteceu no dia 22 de agosto. Segundo a atleta, o seguro acionado no seguimento dessa operação, indicado pela federação, não cobriu essas mesmas despesas. “Mandei um mail há uma semana sobre o assunto, não me responderam.” E acrescentou: “E agora, pelo que percebi, se quiser cumprir o meu plano desportivo por inteiro, vou ter de pagar também”.

A fotografia da publicação junta Telma Monteiro e Ana Hormigo. No final da mensagem estão as palavras para a treinadora. “Como atleta quero de alguma forma continuar a ter a tua presença nas competições e espero que as entidades responsáveis intervenham nesse sentido”, desabafou. “Como amiga digo-te que fico feliz que não tenhas mais de lidar diretamente com essa instituição. Que sorte a tua!”

A Tribuna Expresso contactou diretamente o presidente da Federação Portuguesa de Judo para obter um comentário ou reação à publicação de Telma Monteiro. Ainda não obtivemos resposta.