Perfil

Modalidades

Benfica responde à federação de judo: “A forma como o presidente está a reagir a isto é preocupante. Não pode dizer que está tudo maluco”

Ana Oliveira é coordenadora do projeto olímpico do Benfica e, este sábado, respondeu à reação de Jorge Fernandes, presidente de Federação Portuguesa de Judo, face à carta aberta em que sete atletas (cinco deles do clube da Luz) denunciaram um clima "tóxico" e "discriminatório" na forma como a entidade gere a modalidade

Diogo Pombo

Sete judocas assinaram a carta que criticou a liderança da Federação Portuguesa de Judo e Telma Monteiro é uma delas

David Finch/Getty

Partilhar

“Não há condições para evoluir no atual regime de funcionamento da Federação Portuguesa de Judo.”

A frase consta na carta divulgada na sexta-feira e assinada por sete judocas, Anri Egutidze, Bárbara Timo, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Rodrigo Lopes e Telma Monteiro são os seus nomes. Compõem a maioria da dezena de atletas que integram o Projeto Olímpico dedicado à modalidade em Portugal. É bater no já amolgado que eles são vértebras fulcrais do judo no país e as alegações que fizeram nas sete páginas da dita carta visavam a liderança da entidade que rege o judo. Ou, no fundo, dirigiam-se a um homem.

A denúncia culpava Jorge Fernandes pelo “clima tóxico”, de “discriminação” e “insustentável” que se vive no judo português, centrando-o como o responsável por “opressão e represálias” e criticando o tratamento que o presidente tem para com os judocas. Logo na sexta-feira, o dirigente respondeu à carta, classificando os judocas de “pessoas mentirosas” e a situação como “uma anedota” em declarações à rádio “Observador”. Queixou-se de que os atletas jamais lhe manifestaram, pessoalmente, as preocupações e críticas da carta, rejeitando qualquer hipótese de diálogo: “Não vou reunir com ninguém. Fomos eleitos, temos um programa, o resultado é que manda”.

Para a próxima terça-feira, 16 de agosto, contudo, o Comité Olímpico de Portugal e a Secretaria de Estado do Estado convocaram uma reunião para dialogarem com os sete judocas e a federação.

E a troca de respostas prosseguiu, este sábado, vinda do lado do Benfica e pela voz de Ana Oliveira. “A forma como o presidente está a reagir a isto é preocupante. Um presidente não pode dizer que está tudo maluco, não pode. E digo: não está, mas está quase”, começou por dizer a coordenadora do Projeto Olímpico do clube, falando na “BTV” em defesa de “70% da elite portuguesa” do judo.

A dirigente reconheceu a valia da solução criada pela federação durante a pandemia, quando centralizou os treinos e estágios da seleção em Coimbra - cidade onde vive Jorge Fernandes - e criou “uma bolha”, à qual tentou “dar continuidade” mas “não teve a sensibilidade para perceber que não há hipótese de se ir 52 vezes” à cidade “por ano”. E criticou-lhe a postura: “‘Eu é que mando’. Mas manda em quê? Não faz parte de uma equipa? Os presidentes das federações são eleitos exatamente para terem trabalho, para gerir aquilo que são dinheiros públicos”. Ana Oliveira lembrou que Jorge Fernandes disse que “podiam ser outros a gerir o dinheiro deles”.

O presidente da Federação Portuguesa de Judo, na sua resposta, criticara a vontade de alguns dos atletas visados quererem estágios no estrangeiro para terem parceiros de treino de um nível semelhante, ou superior, defendendo que o deveriam fazer em Portugal para contribuírem para a evolução de outros judocas. “Quem faz a gestão tem de ser o atleta e o treinador, vendo com os treinadores da federação”, resumiu Ana Oliveira, ao argumentar que Telma Monteiro “não pode treinar com o Jorge Fonseca”, Bárbara Timo “não pode treinar com o Anri” e “ir para Coimbra também é saturante”.

Em tempos que já são de ciclo olímpico, pois os próximos Jogos serão já em 2024, em Paris, a colisão entre os sete judocas, a Federação Portuguesa de Judo e o Benfica - os cinco vinculados aos encarnados já conquistaram, entre eles, 25 medalhas para o país em provas internacionais - germinou uma nova polémica no desporto português.