Com o “futebol mais eficiente” do Brasil, o Cruzeiro sonha sob o comando de Leonardo Jardim, o “treinador que tem de ser louvado”
Pedro Vilela
A raposa, que começou 2025 em crise, está em segundo no Brasileirão e nas meias-finais da Taça. Tendo pouco a bola, mas contando com o goleador do campeonato, a crítica já fala de Jardim como "o técnico do ano" no Brasil
Há não muito tempo, o Cruzeiro estava em crise. Depois do pesadelo da descida, em 2019, e das três temporadas na Série B, a passagem de Fernando Diniz pelo conjunto de Belo Horizonte foi desastrosa, com apenas quatro vitórias em 18 jogos.
Tendo em conta os péssimos resultados, fevereiro, ainda antes do arranque do Brasileirão, foi tempo de mudança. O Cruzeiro olhou para o Médio Oriente, onde Leonardo Jardim orientava o Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos. Era a última passagem do técnico por uma zona onde também dirigiu o Al-Rayyan, do Catar, o Al-Ahly, também dos Emirados Árabes Unidos, e o Al-Hilal, da Arábia Saudita, emblema que levou à conquista da Liga dos Campeões da Ásia.
Aos 51 anos, e depois de ser campeão na Grécia e em França, Jardim rumaria ao continente que o viu nascer, dado que veio ao mundo em Barcelona, na Venezuela. Pouco mais de meia volta ao sol passada, o ex-Sporting ou SC Braga é um caso de sucesso entre a crítica e os adeptos do Brasil.
Com o triunfo no terreno do Bahia, o Cruzeiro chegou às cinco vitórias seguidas. Disputadas 23 rondas do campeonato, tem 47 pontos, estando em segundo, três pontos atrás do líder Flamengo, que leva menos um compromisso disputado. A juntar à regularidade no Brasileirão, a raposa acaba de bater o rival Atlético, acedendo às meias-finais da Taça do Brasil. Nesse compromisso, o adversário será o Corinthians.
Pedro Vilela
"Ainda não ganhámos nada", diz o reservado treinador, que tenta baixar a euforia. O Cruzeiro não termina entre os quatro primeiros do Brasileirão desde 2014, quando conquistou o segundo título seguido, pelo que colocar o final à década horrível de um histórico faz disparar o sonho dos adeptos.
Pouca bola, muitos pontos
O conjunto de Jardim é a quinta equipa com menor percentagem de posse de bola média, com 46,1%. Troca, em média, 285 precisos por partida, o terceiro menor registo do Brasileirão. Números magros no que toca à gestão da bola, mas que não significam fraca produção atcante.
O Cruzeiro é a segunda equipa com mais golos marcados (37), somente abaixo dos 47 do Flamengo. É a quarta com mais remates no alvo por desafio (4,8) e conta com o brilhantismo Kaio Jorge, de 23 anos, que lidera a artilharia do Brasileirão, com 15 golos. No total de 2025, o atacante leva 20 golos e cinco assistências.
Outro destaque ofensivo é Matheus Pereira, o ex-Sporting que tem seis assistências no Brasileirão, o segundo melhor registo. Atrás manda Cássio, goleiro lenda do Corinthians que, aos 38 anos, lidera uma defesa que não sofreu golos em 11 de 23 jornadas.
Num artigo a analisar o Cruzeiro, o Globoesporte realça tratar-se do "futebol mais eficiente do Brasil". No UOL destaca-se Jardim como "o técnico do ano" no país, sublinhando-se o trababalho feito "do zero" que leva a que o português seja "um treinador que tem de ser louvado."
Sem fixar metas a nível de resultados — "temos de ser trabalhadores para ir continuando a ganhar pontos para, no fim, vermos o que vamos conseguir" —, Jardim, apesar do êxito, já sabe que não estará "muitos anos" no Brasil. "São grandes distâncias, há muito desgaste. Isso leva a uma grande fadiga física e psicológica. Mas é apaixonante", assume.