A entrada em campo do dono de um clube para despejar irritação em cima do treinador da sua própria equipa é o tipo de transparência pouco vantajosa. Foi um momento sem filtros o que Evangelos Marinakis protagonizou no City Ground após o empate contra o Leicester na antepenúltima jornada da Premier League. Nessa ocasião, Nuno Espírito Santo tentou ser diplomático, mas progressivamente foi perdendo empenho na ocultação de um vínculo cada vez mais frágil.
O Nottingham Forest arrancou 2025/26 sabendo que ao exigente calendário da Premier League ia anexar o da Liga Europa. Pela primeira vez em 30 anos, o clube vai disputar as competições internacionais, consequência do sétimo lugar alcançado na edição anterior do campeonato. A fantasia prevista para a nova época transformou-se num falso oásis.
Quando Nuno Espírito Santo chegou, o Forest estava desesperado por se manter na Premier League. O técnico rendeu Steve Cooper em dezembro de 2023 com a equipa abaixo da linha de água e sem perspetivas de vir à tona na classificação. Para piorar, em março, os tricky trees perderam quatro pontos devido à violação das regras financeiras da competição, quebradas em 2022/23.
Apesar dos contratempos, o objetivo estabelecido para o ano zero foi cumprido. O comboio da liga inglesa continuou a parar em Nottingham. A partir daí, Nuno Espírito Santo montou uma equipa de autor, prática e avessa aos riscos com bola, que conseguiu 65 pontos e devolveu a mística ao clube que em tempos se sagrou bicampeão europeu (1978/79 e 1979/80).
O arranque de 2025/26 não foi brilhante. Dificilmente o poderia ser, com a entrada de 13 jogadores, alguns nas últimas horas do mercado. De qualquer modo, a saída de Nuno Espírito Santo terá mais a ver com o ambiente nos bastidores e menos com a derrota por 3-0, em casa, contra o West Ham. Com toda a franqueza, numa conferência de imprensa, o português disse que a relação com Evangelos Marinakis se tornou “não tão próxima” como antes: “Toda a gente no clube devia estar unida, mas essa não é a realidade.”
A guerra de bastidores atingiu níveis intoleráveis, segundo o The Athletic, por causa de uma terceira figura. O Nottingham Forest contratou Edu Gaspar, ex-Arsenal, para o cargo de diretor desportivo. A química entre a nova figura e NES não terá sido muita. Descontente, o técnico fez críticas públicas à preparação da época, enfurecendo Marinakis e levando o também dono do Rio Ave e do Olympiacos a ponderar um despedimento que se concretizou ao fim de três jornadas. “Estamos muito, muito longe de onde devíamos estar em termos de preparação, de planeamento e de plantel. Estamos muito preocupados”, desabafou numa entrevista à Sky Sports.
O Nottingham Forest agradeceu o “papel fundamental” de Nuno Espírito Santo “durante uma era de muito sucesso no City Ground”. A separação deu-se durante a pausa para os compromissos das seleções e três anos antes do fim do contrato que ligava as duas partes. Ange Postecoglou prepara-se para ocupar o cargo vagado.
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