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Futebol internacional

Ascensão, queda e mutação do futebol chinês, um boom “insustentável” que forçou o gigante a transformar-se

Ascensão, queda e mutação do futebol chinês, um boom “insustentável” que forçou o gigante a transformar-se
Neville Hopwood

Xi Jinping tinha três “desejos”: que a seleção da China voltasse a um Mundial, que organizasse um Mundial e que o vencesse. Por isso, o futebol tornou-se obrigatório na escola e, entre 2014 e 2018, gastaram-se milhões em jogadores, treinadores e a investir em clubes europeus. Uma década depois, o que resta da aposta chinesa, cuja liga e seleção parecem piores do que antes? Quem viveu ou estudou de perto o fenómeno explica um processo que levou a “ditadura mais sofisticada do planeta” a alterar a sua abordagem à modalidade mais popular

Ascensão, queda e mutação do futebol chinês, um boom “insustentável” que forçou o gigante a transformar-se

Pedro Barata

Jornalista

Com 320 jogos nos bancos da La Liga no currículo, Gregorio Manzano era, em 2014, um muito respeitado técnico do futebol espanhol. Passagens por Atlético de Madrid, Maiorca — clube com o qual conquistou a Taça do Rei —, Sevilha ou Málaga constituíam um histórico de respeito. Mas, já perto dos 60 anos, Manzano preparava-se para entrar numa "aventura fantástica".

No tal ano de 2014, o Beijing Guoan contactou-o para assumir o comando da equipa. Manzano recorda que era como "entrar num mundo desconhecido", até porque nunca um técnico espanhol trabalhara na Superliga chinesa. Gregorio fez "algumas investigações" e aceitou. Um experiente profissional da bola que jamais saíra de Espanha foi, então, para o outro lado do mundo.

Ao aterrar em Pequim, Manzano notou "um nível de futebol muito inferior ao europeu". No entanto, uma revolução estava quase a levantar voo. O processo já se iniciara, mas ainda em silêncio, nos corredores do poder, estava a cozinhar-se, ainda não fora apresentado ao público, era coisa de bastidores. Quando a revolução saiu à rua, Manzano lembra-se de sentir "o entusiasmo". "Passou a haver mais gente nos estádios, as audiências de televisão explodiram. Gerou-se, naquela altura, um clima de euforia em torno do futebol na China", diz à Tribuna Expresso.

"Aquela altura" são os anos de 2015, 2016, 2017. A revolução tinha forma de notas, de muitas notas, e caras conhecidas.

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