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O modesto Saarbrücken, da terceira divisão, eliminou o Bayern da Taça e abriu uma crise interna no gigante de Munique

O modesto Saarbrücken, da terceira divisão, eliminou o Bayern da Taça e abriu uma crise interna no gigante de Munique
JEAN-CHRISTOPHE VERHAEGEN/Getty

Há 23 anos que os bávaros não perdiam contra uma equipa fora das duas principais divisões da Alemanha. O 2-1, resultado após prolongamento, deu início a uma chuva de críticas, com o diretor-desportivo a classificar a exibição como “inaceitável” e o capitão, Müller, a pedir que os seus companheiros mostrem “mais respeito” pelos adeptos que viajaram para ver o jogo

O modesto Saarbrücken, da terceira divisão, eliminou o Bayern da Taça e abriu uma crise interna no gigante de Munique

Pedro Barata

Jornalista

Futebol, história e geografia andam sempre de mãos dadas e o Fußball Club Saarbrücken é exemplo disso. Clube do Sarre, no sudoeste alemão, vem de uma zona que saltitou entre desejos de independência ou de ser parte de França antes de se fixar como um Estado do país como mais habitantes da União Europeia.

No pós-II Guerra Mundial, a indefinição quanto ao estatuto do Sarre fez com que uma seleção nacional do país participasse na qualificação para o Mundial de 1954, acabando eliminada num grupo onde estava a RFA. Também por esta incerteza, um representante do Sarre participou na mítica Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1955/56, a primeira edição de sempre da competição que, nos últimos 70 anos, se dedicou a decidir quem é a melhor equipa do continente.

O participante foi o Saarbrücken, que foi eliminado na primeira ronda pelo AC Milan. Esse duelo, o único europeu da história do clube, tem, a partir de agora, um adversário pelo estatuto de mais especial da história dos die molschder.

Nos 16 avos de final da Taça da Alemanha, o Saarbrücken bateu, por 2-1, o gigante Bayern Munique. Os bávaros até começaram a ganhar, com um golo de Müller, mas Sontheimer empatou em cima do intervalo e, no prolongamento, Marcel Gaus deu o triunfo aos locais.

Ocupando a 15.ª posição da terceira divisão da Alemanha, o Saarbrücken é a primeira equipa desde 2000 que consegue derrotar o Bayern sem militar na Bundesliga ou na 2.Bundesliga, os dois primeiros escalões da Alemanha. Depois de terem perdido a Supertaça para o RB Leipzig, os homens de Tuchel dizem adeus a outro objetivo, ficando apenas com a Bundesliga — na qual são segundos, a dois pontos do Bayer Leverkusen de Xabi Alonso — e a Liga dos Campeões.

Alex Grimm/Getty

Num clube conhecido pelas guerras de egos e que, nos últimos anos, tem vivido uma anormal instabilidade, a derrota abriu, desde logo, uma crise interna, com trocas de acusações.

Depois do apito final, apenas Müller, Kimmich, Tel, Sané, Krätzig e Sarr se aproximaram dos adeptos que se deslocaram para assistir ao encontro para agradecer pelo apoio, tendo mesmo o capitão trocado palavras com alguns. O mesmo Müller, à “Sport1”, pediu que os companheiros mostrem “mais respeito” pelos fãs, dizendo que “não pode acontecer que só três ou quatro vão valorizar o apoio recebido”.

Ainda na entrevista rápida após a eliminação, o campeão do mundo em 2014 considerou que o Bayern “não foi inteligente”, precisando de dar “uma imagem diferente”, sendo preciso “discutir internamente” o sucedido. No Instagram, Müller reforçou a mensagem, escrevendo: “Quero pedir desculpa aos adeptos pelo comportamento da equipa. Deveríamos ter ficado mais tempo e mostrado respeito por vocês”.

Segundo a “Sport1”, era possível ouvir, nos corredores e vindo do balneário do Ludwigsparkstadion, gritos de discussão entre os jogadores do Bayern. Musiala, jovem craque, foi filmado a sair do relvado repetindo as palavras “incrível” e “inaceitável”.

Thomas Tuchel, o treinador, foi relativamente comedido nas palavras, falando em “tristeza” e “frustração”. Em contraste, Christoph Freund, diretor-desportivo, foi contundente: “É inaceitável, não entendo como é possível jogarmos tão mal. Sem coragem, sem velocidade, sem agressividade. É impossível competir contra qualquer adversário assim”, disse.

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