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Hey Jude, o Beatle que anulou os Rolling Stones: Bellingham resolve Barcelona-Real Madrid

Hey Jude, o Beatle que anulou os Rolling Stones: Bellingham resolve Barcelona-Real Madrid
Alex Caparros/Getty
No el clásico, a equipa da capital venceu (2-1) os catalães, graças a dois golos do craque inglês. Com Mick Jagger e Ronnie Wood nas bancadas e o símbolo da mítica banda nas camisolas do Barça, os culés foram bem melhores durante uma hora, mas a classe de Bellingham deu a volta à partida
Hey Jude, o Beatle que anulou os Rolling Stones: Bellingham resolve Barcelona-Real Madrid

Pedro Barata

Jornalista

Nasceu em 2003 e sempre foi fenómeno precoce. Quando saiu do Birmingham para o Borussia Dortmund, ainda adolescente, o clube que o vira crescer decidiu retirar o número da sua camisola, o que foi visto como um exagero por alguns. Rapidamente passou a parecer mais um eufemismo que uma hipérbole.

Bellingham, britânico como os Rolling Stones, foi o que tem sido nos meses em que se tornou o novo ídolo do Santiago Bernabéu: decisivo e letal, killer, venenoso e mágico. Hey Jude, Take a sad song and make it better. Bellingham, pega no difícil guião do jogo para o Real Madrid e transforma-o numa vitória. Ok, desafio aceite.

Depois de uma hora de superioridade do Barcelona, Jude apareceu para virar o clássico de pernas para o ar. Do 1-0 foi-se para o 2-1 final, graças a dois golos de Bellingham, que já soma 13 em 13 partidas pelos blancos. O primeiro foi uma bomba, um míssil, um grito de revolta perante a dificuldade. O segundo foi o cinismo, a oportunidade, a estocada letal.

À boleia do acordo de patrocínio do Spotify, os blaugrana voltaram a entrar em campo com música na camisola. Depois de Drake ou Rosalía, o el clásico entrou no panteão das lendas do rock, de língua de fora e juventude eterna. Com os Rolling Stones na camisola e Mick Jagger e Ronnie Wood nas bancadas, o Barcelona partiu a personificar essa energia.

“Start me up” foi um dos últimos temas que se ouviram antes do começo da contenda e o arranque culé foi de vertigem e ritmo alto, futebol de acordes acelerados, mas mantendo a afinação. Logo aos 6', a agressividade local contrastou com a passividade visitante: de um projeto de tabela entre İlkay Gündoğan e Ferran Torres gerou-se uma bola solta, perdida, para a qual Rudiger ficou a olhar. No limite, Alaba tentou o corte, mas Gündoğan ficou com a posse e bateu Kepa. 1-0.

Em Montjuïc, lá no topo da cidade onde está a casa emprestada dos blaugrana, o Real organizava-se em 4-4-2 clássico, com Kroos e Tchouameni no meio, Valverde na direita e Bellingham na esquerda. Na frente, os móveis Rodrygo e Vinícius foram ilhas de descoberta impossível na etapa inicial. O primeiro pouco apareceu no jogo até ser substituído, aos 63'. O segundo ia-se envolvendo em discussões e picardias, ao mesmo tempo que perdia quase todos os duelos com Ronald Araujo.

O defesa uruguaio, central de vocação, voltou a ser lateral, a solução de Xavi para travar Vinícius. A escolha remeteu João Cancelo para extremo-direito.

Partindo do outro lado, na esquerda, João Félix tocou um dos acordes mais belos da tarde na montanha. Um túnel mágico sobre Rudiger, a arte de fazer a bola aparecer, desaparecer e voltar a aparecer. Aos 16', Fermin, outro dos jovens da formação culé, acertou no poste .O Real demorou mais de uma hora a criar perigo, enquanto o Barcelona não conseguia materializar no marcador a sua superioridade.

Os primeiros minutos da etapa complementar foram de oportunidade desperdiçada para o Barcelona. Iñigo Martínez acertou no poste, João Cancelo também falhou o 2-0.

Quando nada o fazia prever, Bellingham começou a agarrar na melodia e a torná-la sua. Dos Rolling Stones das camisolas do Barcelona para Jude, o Beatle merengue.

Aos 68', quando havia passado os minutos anteriores algo perdido e fora do jogo, entrou com estrondo no clássico. Um golaço do meio da rua, o tipo de momento que, além de fazer o 1-1, é um aviso à navegação, uma prova de vida e de personalidade, uma manifestação de que nada será igual a partir dali.


E não foi. Os suplentes do Barcelona entraram todos mal no encontro, algo atordoados pela magia do outro lado. Lewandowski falhava gestos técnicos fáceis, Oriol Romeu somava perdas, Raphina e Lamal estavam imprecisos. Tudo o oposta eram os nomes frescos do Real, com Modric a trazer liderança e Joselu presença.

Aos 92', depois da bomba, veio o oportunismo. Cruzamento de Carvajal, desvio de Modric, golo de Bellingham. O clássico é dele. Começou com o “Start me up”, acabou com a música que ele quis. “Na na na nananana, nannana, hey Jude...”

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