Depois da vitória do Barcelona no encontro com o Betis, há duas semanas, um curto e curioso vídeo espalhou-se internet fora. Nele, João Félix, no seu território primordial da meia-esquerda e ainda longe da bola, olha para a esquerda e para a direita, em movimentos frenéticos, digitalizando na sua cabeça tudo o que se passava à sua volta, quase a 360 graus. Quando a bola chega a si, depois de uns 20 segundos de intensa observação do habitat, Félix sabe exatamente o que fazer. Sabe exatamente onde estão os adversários. E onde está o seu avançado. Ele nem toca na bola que segue na sua direção: deixa-a passar por baixo das pernas, num movimento que engana os jogadores do Betis, sabendo que na trajetória dela estará Robert Lewandowski. Ele já viu isto tudo antes de acontecer. O polaco isola-se e faz golo.
Aquele movimento delicioso não contou como assistência nas duras e pragmáticas estatísticas, mas contou no nosso coração. João Félix voltou a ser João Feliz em Barcelona, aquele funambulista de braço alçado, de quem vive no permanente risco com a bola nos pés, com a leveza e ao mesmo tempo o peso do mundo de quem sabe com muitos toques de antecedência o que vai acontecer, o que aquela jogada pode dar. No operário Atlético Madrid de Diego Simeone, Félix era um prisioneiro numa gaiola dourada, em Barcelona parece livre de novo, tão livre como quando despontou no Benfica de Bruno Lage, que o resgatou às alas onde Rui Vitória o largava.
Em cinco jogos pelo Barcelona, quatro na La Liga e um na Liga dos Campeões, João Félix já marcou três golos e fez duas assistências. Mais importante que isso, voltaram aqueles passinhos voadores, ladinos, como quem se move docemente em bicos de pés, sorrateiro, enquanto prepara um qualquer momento de êxtase.
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