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Wenger regressou ao estádio do Arsenal, onde não ia desde que saiu em 2018: “There’s only one Arsène Wenger”, cantaram os adeptos

Esteve 22 anos no cargo, ganhou três campeonatos, um deles sem derrotas, e muitos mais troféus, mas a despedida foi amarga. Pouco mais de quatro anos depois, Arsène Wenger reapareceu no Emirates, o estádio que levantou abdicando de muitas jóias que ajudou a formar. Mikel Arteta, por trás deste regresso, agradeceu ao ex-treinador: “Foi um dia muito especial. Esperamos que, ao andar pelo edifício, ele sinta tudo o que deixou aqui. Significa muito para toda a gente no clube”

Hugo Tavares da Silva

David Price

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There’s only one Arsène Wenger
There’s only one Arsène Wenger
There’s only one Arsène Wenger

E assim, com ternura e memória, cantaram as gentes do Emirates, em Londres, após mais um golo para o Arsenal de Mikel Arteta, um ex-futebolista e capitão daquele arquiteto francês, especializado em beleza paisagística no futebol. Ao lado de Arsène Wenger, um invencível três vezes campeão por ali, os olhos de Annie Brosterhous, a mulher, pareciam encher-se de água.

O treinador nunca tinha regressado ao moderno e colossal estádio que ajudou a levantar, mas não sem um custo elevado: perdeu craques que ajudou a formar todas as épocas e não gastou o dinheiro que os adeptos exigiam para repor a qualidade. A ideia era construir e criar algo, mas os rivais, com bolsos fundos, investiam como nunca (primeiro Chelsea, depois City). Os cânticos e o respeito que o abraçaram na noite de segunda-feira, em mais uma vitória para o seu Arsenal, desta vez frente ao West Ham, talvez tenham ajudado a afrouxar as lembranças dos últimos tempos no cargo. O desgaste e o desamor foram tremendos.

Até o marcador homenageou o ilustre visitante que trabalhou neste clube entre 1996 e 2018: Bukayo Saka, Gabriel Martinelli e Eddie Nketiah, três rapazinhos cheios de qualidade e atrevimento, fizeram os golos que colocavam os gunners ainda mais líderes da Premier League. O último foi lançado, aos 18, por Wenger, num jogo da Liga Europa, em 2017. Já Saka admitiu, há três semanas e durante o Campeonato do Mundo, que um dos maiores lamentos que tinha era nunca ter conhecido Arsène Wenger, alguém que marcou a sua infância. Os futebolistas do clube, esses, não sabiam daquela visita especial, garantiu Mikel Arteta.

“Queríamos que fosse algo discreto e dar espaço ao Arsène”, explicou o treinador do Arsenal. “Foi um dia muito especial, muito obrigado a ele por ter vindo. Esperamos que, ao andar pelo edifício, ele sinta tudo o que deixou aqui. A presença dele é algo que tem de estar muito, muito ligada a este clube de futebol, por isso obrigado a ele por isso. Significa muito para toda a gente no clube.”

Arteta, que também já viveu tempos conturbados antes desta época aparentemente dourada, admitiu que esteve envolvido nas combinações para devolver Wenger ao Emirates e vice-versa. O basco foi treinado por Arsène Wenger entre 2011 e 2016, quando pendurou as botas.

“Mas isto é sobre ele, sobre o timing que ele precisou para dar este passo”, continuou a explicar o espanhol. “Oxalá ele queira passar mais tempo connosco e andar por aqui, porque ele é uma grande influência, para mim pessoalmente, na minha carreira, pela maneira como vejo o jogo, mas também para este clube de futebol.”

Wenger chegou a Highbury Park no verão de 1996, proveniente do Nagoya Grampus, do Japão, o que levou um jornal a escrever na primeira página: “Arsène Who?”. Vinte e dois anos depois, os livros de história sabiam perfeitamente quem era, não só pelos títulos que conquistou – três Ligas Inglesas, sete FA Cup e sete Supertaças (finalista da Liga dos Campeões, em 2006) –, mas também pelo bom futebol. Foi o pioneiro a almejar a estética como forma de viver, promovendo um jogo que obedecia à técnica e às associações entre os bons futebolistas, como Henry, Bergkamp e Pires. Com ele, o “kick and rush” ficou para trás.