A edição desta quarta-feira do jornal desportivo “Marca” regressa ao tempo em que não havia cores garridas a distinguir uns e outros. É a preto e branco que o diário espanhol dá as notícias mais recentes do desporto e entrevista Nico Williams, a mais recente sensação do futebol espanhol, surpreendentemente – até para o próprio – convocado por Luís Enrique para a seleção principal.
O diário anuncia a opção pelo branco e preto como um “sinal de repulsa absoluta pelo racismo”. Explica o órgão de comunicação que “o vergonhoso episódio vivido no passado domingo no Metropolitano [estádio do Atlético], com os insultos racistas proferidos por um grupo de adeptos [colchoneros] contra Vinícius Jr. deve constituir um ponto de reflexão para separar o futebol (…) de todos os que apenas são capazes de gerar ódio”.
Nas páginas do jornal, o miúdo Nico Williams, de origem ganesa, também aborda o tema. “Ninguém nasce racista, é uma questão de educação”, diz o jogador de 20 anos, nascido em Pamplona. No sábado, Williams pode estrear-se com a camisola da la roja, frente à Suíça. O irmão, Iñaki Williams, foi convocado para representar o Gana e pode estrear-se frente ao Brasil, esta sexta-feira.
Nico está habituado a representar os sub-21 e confessa-se surpreendido com a chamada à seleção principal. “Estou muito grato”, diz, entre sorrisos. Proveniente de uma família unida, o mais novo dos Williams assume a importância dos conselhos dados pelo irmão: “Às vezes desentendemo-nos, (…) mas estou muito grato por tê-lo como irmão e por ele me dar os conselhos que nem toda a gente tem a sorte de ouvir”.
Os pais de Nico e Iñaki são vistos pelos filhos como heróis, por tudo o que passaram na vida, particularmente entre o Gana e Espanha. “Quem dera que todos tivessem uns pais destes nas suas vidas e espero poder estar muito tempo com eles”, diz Nico, que admite sentir calafrios ao ouvir a história da viagem até à Península Ibérica. “Passaram momentos muito duros no deserto”, confessa o homem que, em pequeno, idolatrava Didier Dogba.
Sobre Espanha, Nico não tem dúvidas: “Aqui há pessoas muito boas. Os racistas são grupos muito pequenos que é preciso erradicar. Em geral, as pessoas são muito boas e ajudam muito os que vêm de fora. Estamos muito agradecidos por termos sido ajudados”. O ala do Atlético de Bilbau diz que não sentiu racismo no futebol espanhol, mas viu o irmão ser um pouco “incomodado nesse aspeto”. “Penso que são coisas do futebol e espero que essas pessoas pensem no que fazem e que isso acabe”, diz.
“Isso começa desde pequeno. Ninguém nasce racista. Com educação em casa e na escola penso que, aos poucos, o racismo vai desaparecer”, projeta Nico Williams, que se mostra disponível a dar “a vida e mais do que isso” para estar no Mundial do Catar ao serviço de Espanha. Para já a camisola da estreia tem um destinatário definido: “A minha mãe, sem dúvida”.