Nem a grade pelo meio impediu o abraço entre os irmãos Williams e a mãe, depois da vitória do Athletic Bilbao frente ao Atlético Madrid, na meia-final da Supertaça espanhola, na Arábia Saudita. As imagens emocionaram o mundo, até porque naquele abraço estava o retrato de uma história de superação.
Iñaki (27 anos) e Nico (19) Williams contaram agora a sua história ao ex-selecionador espanhol Vicente del Bosque, para o ‘El País’. Desde as dificuldades que os pais enfrentaram quando abandonaram o Gana até à conquista de uma vida melhor em Espanha.
“Foi um motivo de orgulho para nós jogarmos uma Supertaça a tantos quilómetros de distância e a minha mãe e família estarem lá, a ver o meu irmão marcar o golo da reviravolta contra o Atlético que nos permitiu estar na final. O nosso sonho foi sempre jogar juntos e ver-nos lá com a nossa mãe, tão feliz, foi muito emocionante”, disse Iñaki.
Mas o que del Bosque queria mesmo era conhecer melhor a história desta família: “A sociedade precisa de conhecer exemplos de superação como o da vossa família”, disse.
Os pais dos irmãos Williams conheceram-se num campo de refugiados perto de Acra, capital do Gana, e atravessaram o continente africano com o objetivo de terem uma vida melhor e proporcionarem um futuro aos filhos. Até porque María, a mãe, fez toda a viagem grávida de Iñaki.
“O acaso ou o destino quiseram que nascesse aqui em Bilbau. Como ela diz, tudo acontece por uma razão. Não é fácil, não só para os meus pais, mas para muitas pessoas que procuram um futuro melhor para os seus filhos”, afirmou Iñaki. “Eles queriam um futuro melhor para os seus filhos, mas não sabiam que seria tão difícil. Vieram com a ignorância de não saberem o que os esperava no caminho para Melilla. Sofreram muito e muitos dos que vieram foram deixados pelo caminho, tiveram de enterrar pessoas. Felizmente, graças a Deus, o destino quis que pessoas bondosas os ajudassem”.
A adaptação a Bilbau foi feita sem qualquer dificuldade porque, consideram os irmãos, sempre foram trabalhadores, humildes e respeitaram os mais velhos.
“O nosso sangue é africano, é do Gana, mas nós crescemos aqui e temos a cultura e tradição do País Basco e de Espanha. As pessoas, pela forma como nos conhecem e pela forma como nos comportamos, sabem que somos iguais a qualquer um dos nossos colegas”.
A chegada dos irmãos ao balneário do Athletic serviu também para quebrar uma barreira no clube: “A minha chegada à primeira equipa abriu muitas janelas e portas. Nunca tinha sido visto um jogador negro na primeira equipa do Athletic e agora somos dois, e, além disso, irmãos”, disse Iñaki.
Manterem-se juntos é, aliás, mais um dos ensinamentos da mãe, que acredita na frase “se queres ir rápido, vai sozinho, se queres ir longe, vai acompanhado”. A mesma frase que Iñaki já tem tatuada e Nico pretende tatuar. E nem os oito anos que têm de diferença colocam alguma barreira entre estes irmãos. Aliás, o mais velho acabou por se tornar um segundo pai para o mais novo.
“Eu sei que é bom que ele me corrija, ainda tenho muito a aprender. Talvez o que mais prezo seja a sua paciência em ajudar-me e aturar-me. Sei que por vezes fico nervoso, mas estou muito grato por tudo o que ele faz por mim. É verdade que ele foi como um pai para mim”, disse Nico.
A vontade de Del Bosque de saber mais sobre os irmãos e a sua família acabou por ser interrompida pela curiosidade também presente do lado dos entrevistados. E Iñaki não resistiu: “Entre o seu tempo e agora, acha que os balneários mudaram muito?”
“Não me parece. A essência de um balneário não deve mudar. Têm de ser bons rapazes. Se fores bom, vão seguir-te até à morte, quer jogues bem ou mal. Caso contrário, não te seguirão”, afirmou o ex-selecionador.