Na história da difícil relação entre futebol feminino e maternidade, Sara Gunnarsdóttir ganhou, nos últimos dias, muito protagonismo. Num texto no “The Players Tribune”, a jogadora islandesa escreveu sobre a experiência de ser mãe quando estava no Lyon, com o clube a deixar de pagar-lhe salários e a ameaçá-la com “não ter futuro” no emblema francês se fizesse queixas à FIFA.
“Eles fizeram-me sempre sentir como se fosse negativo ter tido um bebé”, lamentou Gunnarsdóttir que, com a ajuda da FIFPro, união internacional dos sindicatos de futebolistas profissionais, fez queixa do tratamento que teve na FIFA, que lhe deu razão. Agora, a equipa oito vezes campeã europeia respondeu às acusações da islandesa.
Sónia Bompastor, treinadora do Lyon desde o final de abril de 2021 — a jogadora soube que estava grávida em março de 2021 —, garantiu que a sua equipa técnica “acompanhou com muita regularidade” a gravidez de Gunnarsdóttir, aceitando que esta passasse esse período na Islândia e “organizando o regresso para que ela voltasse da melhor forma possível em janeiro de 2022". Citada pela RMC Sport, Bompastor disse falar, simultaneamente, como “treinadora e mãe de quatro filhos”.
A treinadora do Lyon recordou que o clube propôs à jogadora fazer “um teste”, no qual o bebé a seguiria em dois jogos fora, na companhia de uma ama, mas que a islandesa recusou essa hipótese. “O Lyon estava atento à situação, confiando na minha sensibilidade como mulher”, comentou Bompastor.
Clube e atleta nunca chegaram a acordo e a treinadora justifica algumas imperfeições com a novidade do caso. “Queríamos que ela se sentisse o melhor possível como mãe. Nem tudo foi perfeito porque era uma novidade, mas acho que ao nível da equipa técnica e do staff foi tudo feito para que ela se sentisse bem como atleta e como mãe”.
Quando voltou a França depois de ser mãe, Sara Gunnarsdóttir perdeu protagonismo, acabando por rumar à Juventus, clube que agora representa. Sonia Bompastor rejeita que o facto de a islandesa ter sido preterida face a outras companheiras se devesse à gravidez, mas sim “somente ao rendimento desportivo”. “Fui eu que decidi não continuar com a Sara. Havia muita concorrência no meio-campo e jogadoras que respondiam melhor ao que eu queria. Ela não correspondeu às minhas expectativas e ao meu plano de jogo”, explicou a técnica.
No Europeu de 2022, em Inglaterra, o tema da maternidade foi bastante discutido. Na seleção portuguesa, Suzane Pires era a única mãe, enquanto a Islândia de Gunnarsdóttir era apontada como exemplo positivo, com cinco mães no plantel: Sara Gunnarsdóttir, Dagný Brynjarsdóttir, Sif Atladóttir, Sandra Sigurðardóttir e Elísa Viðarsdóttir.
Contactada, na altura do torneio, pela Tribuna Expresso, a Federação islandesa comentou que não tinha “uma política escrita” para a maternidade das jogadores, mas que tenta “fazer tudo o possível para que elas se sintam confortáveis”, sobretudo “quando as crianças são muito novas”.