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Futebol feminino

Rebelião na seleção feminina espanhola? Jogadoras batem o pé e pedem a saída do treinador Jorge Vilda

Apesar dos insistentes pedidos das internacionais espanholas, Vilda recusa demitir-se e quer cumprir o contrato que o liga à Real Federação Espanhola até 2024. Conta com um apoio de peso: Luis Rubiales, presidente da entidade

Carlos Luís Ramalhão

Irene Paredes frente a frente com Jorge Vildas na cerimónia de homenagem às sub-20

Europa Press Sports

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Jogado o Europeu, em Inglaterra, em que acabaram eliminadas pela equipa anfitriã, que havia de sagrar-se campeã europeia, as jogadoras espanholas pedem que o treinador Jorge Vilda deixe o cargo. Apesar da insistência das internacionais, o selecionador recusa demitir-se e está disposto a cumprir o contrato, que dura até 2024. Do seu lado, Vilda tem o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales.

Aproximam-se a passos largos dois jogos importantes na caminhada para o Mundial 2023. As espanholas preparam os confrontos com a Hungria e a Ucrânia. Ainda assim, não houve pausas na luta, encabeçada pelas capitãs Irene Paredes, Patri Guijarro e Alexia Putellas, esta última eleita a melhor jogadora do mundo e ausente da convocatória por lesão, que já a tinha impedido de estar em Inglaterra.

De acordo com “El Mundo”, o comité pediu primeiro que Luis Rubiales despedisse Jorge Vilda (fizeram-no por telefone). Depois, na segunda-feira, as capitãs dirigiram-se ao próprio selecionador e fizeram-lhe o pedido pessoalmente. A conversa com Rubiales terá sido infrutífera. De Vilda terão ouvido novo “não”. O “El Confidencial” diz que o técnico terá negado qualquer intenção de se demitir.

Apesar de este tipo de iniciativas não ser vulgar na história do futebol, a verdade é que algumas destas jogadoras já tinham participado, em 2020/21, numa petição para o despedimento de Lluís Cortés, então treinador do Barcelona. Na altura, tal como agora, reuniram-se as capitãs, que falaram com Joan Laporta, presidente do clube.

Curiosamente, também no caso Vilda foram as capitãs do FC Barcelona, as mesmas da equipa nacional, em cujo plantel o Barça tem uma presença inegável, que tomaram as rédeas da luta. Segundo o “El Confidencial”, as jogadoras pediram novos rumos, tanto para o Comité Nacional de Futebol Feminino, presidido por Rafael del Amo, como, acima de tudo, para a seleção treinada por Jorge Vilda.

O “El Mundo” sublinha que Paredes, Guijarro e Putellas representam uma grande parte das internacionais espanholas, mas não todas. As três reclamam que os métodos de treino estão desatualizados, que a aplicação de novas metodologias poderia fazer delas melhores jogadoras e que a forma de Vilda tratar algumas das colegas não é a mais adequada. Há clara falta de sintonia entre comandante e comandadas.

Na terça-feira, durante a cerimónia de homenagem às jogadoras da seleção sub-20, que no fim de semana se sagraram campeãs do mundo, o contraste nas expressões dos presentes não podia ser mais notório: enquanto as mais jovens não podiam sorrir mais, descreve o “El Mundo”, tanto as seniores como o seu treinador se esforçavam infrutiferamente para disfarçar a tensão reinante.

Rubiales irá agora tentar mediar o conflito entre as duas partes. Se o castelo se mantiver de pé, haverá uma conferência de imprensa de Jorge Vilda esta quarta-feira, mas para falar do jogo frente à Hungria. De resto, não há abertura para abordar com os órgãos de comunicação social o tema quente deste final de verão.