Graças ao esforço liderado por Billie Jean King, lenda do ténis e ativista pela igualdade de género, o US Open instituiu prémios monetários iguais para homens e mulheres em 1973. Muito tempo depois, em 2001, o Open da Austrália fez o mesmo de forma definitiva, com o ciclo dos majors a ficar completo em 2007, quando Roland-Garros e Wimbledon foram pelo mesmo caminho. No entanto, fora do Grand Slam, o cenário é bem diferente — e está a piorar.
Segundo um estudo do "Financial Times", excluindo os quatro torneios mais importantes do calendário, o prize money total do circuito masculino é 71% maior do que o do feminino. Esta diferença, bem diferente da igualdade dos torneios do Grand Slam, é a maior desde 2001.
Um exemplo desta disparidade deu-se em dois dos torneios de relva que antecedem Wimbledon. Na Alemanha, na semana de 12 a 19 de junho, disputou-se o Halle Open (para homens) e o German Open, em Berlim (para mulheres). Pois bem, Hubert Hurkacz, vencedor da competição masculina, arrecadou €399.170, enquanto Ons Jabeur, que triunfou em Berlim, levou para casa €93.823.
Reagindo a esta disparidade, a ucraniana Marta Kostyuk recorreu ao Twitter para perguntar: "Somos assim tão más?", questionou a jogadora, colocando uma imagem dos prémios monetários de ambos os torneios de 2021.
Swiatek, Billie Jean King e Mauresmo (atual diretora de Roland-Garros)
Ryan Pierse
A polaca Iga Swiatek é a dominadora incontestada do circuito feminino desde a retirada de Ash Barty. A número um do mundo vai em 35 vitórias consecutivas, durante as quais venceu os seis torneios que disputou desde o final de fevereiro. Graças a estes resultados fantásticos, Swiatek arrecadou cerca de 5,43 milhões de euros. No entanto, se a polaca tivesse tido exatamente as mesmas prestações no circuito masculino, teria levado para casa cerca de €1,91 milhões a mais.
Há diversos exemplos de torneios com desigualdade de pagamentos. Por vencer o ATP 1000 de Roma, Novak Djokovic ganhou €836.355, bem mais do que os € 332,260 que couberam a Iga Swiatek. O torneio de Eastbourne, que a nível ATP é um 250 — categoria mais baixa —, mas em WTA é um 500 (é mais importante a nível feminino que a masculino), viu os prémios monetários darem a volta recentemente: em 2019, o bolo a ser distribuído pelas mulheres era de cerca de €951.00 e pelos homens de 710.84; em 2022, as mulheres só dividiram entre si €722.29, enquanto os homens levaram €760.750.
Outro caso desta disparidade dá-se no Dubai, onde se disputam, em semanas seguidas de fevereiro, dois torneios, um ATP 500 e outro WTA 500. Jelena Ostapenko, que conquistou o título entre as mulheres, ganhou €99.29, enquanto Andrey Rublev, ganhador entre os homens, somou €499.13.
Enquanto decorria a competição masculina no Dubai, Andy Murray, que sempre defendeu a igualdade de género no ténis, foi uma das vozes que se pronunciou contra a disparidade. O escocês considerou que os prémios monetários diferentes são "um grande passo atrás" e que havia "uma grande discrepância" entre dois torneios "com a mesma dimensão separados por uma semana".