O primeiro-ministro britânico Boris Johnson afirmou que “os elementos biologicamente masculinos não devem competir em eventos desportivos femininos”. O comentário aconteceu quando Emily Bridges, ciclista transgénero de 21 anos, estava a ser fortemente criticada nas redes sociais e pelas suas adversárias. As palavras do político não ajudaram.
Em entrevista à "ITV", a galesa confessou que tem sido ameaçada. “Os comentários de Boris Johnson levaram a ameaças contra mim”, afirmou Emily. “Tenho muitas vezes medo de ser quem sou em público. (…) É muito estranho ver aquele que é provavelmente o homem mais famoso da Grã-Bretanha a falar sobre ti e a ter uma opinião sobre algo do qual ele não sabe nada”, acrescentou.
“A resposta a isso foi a esperada: recebi ameaças físicas online, feitas por estranhos. As pessoas têm o direito à sua opinião, mas há uma forma de emitir essa visão e ameaçar partir-me os joelhos não é a opção certa”, contou Bridges, que gostaria de competir nos Jogos da Commonwealth, no verão.
O evento que junta a maioria dos países de língua inglesa permite a participação de atletas transgénero. No entanto, após a ausência de consenso na comunidade de desportistas, a União Ciclista Internacional resolveu intervir, não atribuindo a Bridges uma troca de licença. Também a British Cycling interveio, suspendendo as suas regras sobre atletas transgénero enquanto “não encontrar uma solução melhor”.
“Nesse momento, eu soube que o meu objetivo da época, competir nos Jogos da Commonwealth, em Birmingham, este verão, estava fora de questão. (…) Eu sinto um enorme orgulho em ser galesa e queria representar o meu país”, confessou Emily à "ITV".
A atleta de 21 anos tornou-se mais conhecida em março, quando as suas tentativas de correr nos Campeonatos Britânicos, na categoria feminina, foram rejeitadas à última hora pela UCI.
Um dos argumentos contra Emily foi o facto de a atleta ter competido em provas masculinas nos Campeonatos Universitários do Reino Unido, um mês antes. “Provavelmente, não foi a minha melhor decisão”, admite Bridges, explicando: “Eu queria fazê-lo para manter as minhas capacidades em forma”. A ciclista diz que, mal acabou a prova, começou a pensar nas consequências do que tinha feito e arrependeu-se.