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Quatro meses depois do caso Valieva, União Internacional de Patinagem aumenta idade mínima de competição de 15 para 17 anos

Quatro meses depois do caso Valieva, União Internacional de Patinagem aumenta idade mínima de competição de 15 para 17 anos
Matthew Stockman/Getty
A controvérsia em torno do caso de doping da patinadora russa, então com 15 anos, foi o principal foco de atenção mediática nos últimos Jogos Olímpicos de Inverno. Em congresso, a federação internacional da modalidade aprovou o aumento, de maneira gradual, da idade mínima para participar em competições a nível sénior
Quatro meses depois do caso Valieva, União Internacional de Patinagem aumenta idade mínima de competição de 15 para 17 anos

Pedro Barata

Jornalista

A União Internacional de Patinagem tomou, no 58.º congresso da entidade, a decisão de subir, de forma gradual, a idade mínima para participar em provas a nível sénior de 15 para 17 anos. Numa medida para “a proteção da saúde física e emocional e do bem-estar” dos atletas, a federação revelou que não haverá qualquer alteração para a época 2022/23, subindo a idade para 16 anos em 2023/24 e, finalmente, para 17 em 2024/25 e daí para a frente.

Cem países votaram a favor da mudança, havendo apenas 16 a oporem-se. “É uma decisão histórica”, comentou o presidente da União Internacional, Jan Dijkema.

Antes da votação, o diretor-geral da União Internacional, Fredi Schmid, reconheceu que a modalidade enfrentava “pressão mediática” para uma alteração. Schmid recordou aos delegados do congresso que a “credibilidade” da patinagem estava em jogo e que a União Internacional tem enfrentado “escrutínio”, pedindo que os votantes “não se esquecessem” que “os media e o público estão atentos”.

A “pressão” de que os responsáveis da União Internacional de Patinagem falam aumentou significativamente depois do caso Kamila Valieva, que marcou os Jogos Olímpicos de Pequim, em fevereiro. A russa, então de 15 anos, acusou positivo a trimetazidina, uma substância associada a tratamentos para a angina de peito. O teste foi feito em dezembro, mas o resultado só foi conhecido poucas horas depois da prova por equipas. Valieva foi suspensa provisoriamente, mas o castigo foi levantado.

A adolescente russa pode participar na prova individual feminina, mas a sua atuação ficou marcada por erros. Ao longo de todos os Jogos Olímpicos, a forma como o entorno — particularmente a treinadora Eteri Tutberidze — da equipa russa lidava com Valieva foi alvo de controvérsia.

Um comité médico da União Internacional de Patinagem deu um parecer favorável à subida da idade mínima, indicando que poderá “prolongar as carreiras”, que muitas vezes terminam antes dos 20 anos. Jane Moran, médica do comité, disse ser uma “obrigação moral” dos “responsáveis da modalidade” conseguir “providenciar aos praticantes jovens o tempo e oportunidade para se desenvolverem”. “Eles têm o direito de se desenvolverem como pessoas enquanto adolescente, não precisando que nós os forcemos a competir a nível sénior”, considerou a médica.

O relatório do comité médico indicou “aumento do risco de lesões” ou “desenvolvimento de distúrbios alimentares” como consequências da competição em idade adolescente. “Temos, todos, que nos recordar que eles são crianças primeiro e só depois atletas”, disse, no congresso, o representante da República da Irlanda.

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