Em Roland-Garros o rei é Rafael Nadal, o 13 vezes campeão que até tem uma estátua, mas há nos ares de Paris uma sensação de render geracional inevitável e um dos sérios candidatos ao trono é Carlos Alcaraz — ou Carlitos Alcaraz, porque quer que lhe chamem “tudo menos Carlos”. O sucesso recente do mais novo dos espanhóis, campeão nos ATP 500 do Rio de Janeiro e Barcelona e dos ATP Masters 1000 de Miami e Madrid, só nos primeiros meses de 2022, reforça-o e foi como uma verdadeira estrela que o ainda teenager foi recebido, este domingo, por pequenos e graúdos na capital francesa, que o escolheu para fechar o primeiro dia da enorme festa que é Roland-Garros.
O que não é dizer pouco.
Enquanto em Wimbledon a tradição diz que o campeão masculino em título deve inaugurar a relva do histórico Centre Court, no renovado Roland-Garros — com uma cobertura amovível no Court Philippe-Chatrier e sessões noturnas no cardápio — o papel atribuído ao último vencedor, Novak Djokovic, foi o de atuar sob os holofotes na noite desta segunda-feira. Por isso, ainda que o primeiro dia não tenha tido uma sessão noturna oficial, foi significativo que Alcaraz, o jogador mais cobiçado do primeiro "menu", tenha encerrado a jornada de domingo no maior palco do complexo.
Se, na véspera, arrastou multidões de crianças que de tudo fizeram para o ver treinar durante o Kids Day (Roland-Garros é o único dos quatro torneios do Grand Slam a começar no domingo, o que estende a primeira ronda por três dias, e dedica a jornada anterior aos mais jovens, com inúmeras sessões de treino e animações), desde subir a bancos ou às escadarias dos courts anexos, o encontro da primeira ronda não foi diferente. Logo pela manhã, as bandeiras espanholas começaram a preencher todas as esquinas do Stade Roland-Garros e, depois de se dividirem por vários recentes no final da tarde, o destino era um e apenas um, com milhares de pessoas a preencherem quase por completo um campo com capacidade para aproximadamente 15.000 espetadores.
Com uma receção digna de uma autêntica estrela, o espanhol de 19 anos, que há 12 meses tinha acabado de entrar no top 100 (com um título Challenger Oeiras Open 125 em Portugal), pisou pela primeira vez o maior court de ténis em França e começou a escrever a sua história.
Aqueles que o viram deslizar na terra batida portuguesa em maio de 2021, quando a pandemia ainda obrigava a que os torneios decorressem sem público, encontram na atual versão de Carlos Alcaraz muitos dos pormenores que revelou nessa passagem pelo Jamor, bem como semanas antes no Millennium Estoril Open. Era menos musculado, mas já revelava uma estrutura física acima da média.
Movimentava-se com aparente e desconcertante facilidade, qual adolescente recém-chegado ao circuito. Tinha nos olhos a ambição que faz crer, não querer, e que acompanhava com um discurso eloquente (na altura sobretudo em espanhol, nos dias de hoje já bastante à vontade em inglês) e livre de arrogância. E revelava uma capacidade explosiva que tão potenciada tem sido por Juan Carlos Ferrero, o “Mosquito” (alcunha com que ficou conhecido o ex-número um mundial) que o agarrou com tenra idade e desde logo soube balizar as expetativas e o potencial, inimigos de tantos os que, como ele, foram apontados como sucessores de Federer, Nadal e Djokovic.