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Detido numa prisão do Bahrein, Alhajee enviou uma carta a Lewis Hamilton: “A tua preocupação mudou a forma como os prisioneiros veem a F1”

Detido numa prisão do Bahrein, Alhajee enviou uma carta a Lewis Hamilton: “A tua preocupação mudou a forma como os prisioneiros veem a F1”
Mark Thompson/Getty

Prisioneiros no país que vai receber o primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 da temporada escrevem “44”, o número de Hamilton, nas roupas, em sinal de apoio ao inglês. Organizações de direitos humanos exigem que a modalidade faça a diferença no Bahrein

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O primeiro Grande Prémio da época 2022 realiza-se no domingo, no Bahrein, país fortemente criticado por várias organizações de defesa dos direitos humanos. Nas prisões do estado árabe, inspirados pela ideia de Lewis Hamilton, de que a F1 assuma responsabilidades em relação a problemas de direitos humanos em cada país que visita, os reclusos têm pintado o número do carro do inglês – o 44 – nas suas próprias roupas.

Ali Alhajee, um dos prisioneiros de Jau, explicou que os reclusos — políticos e “de consciência” — já tinham boicotado a F1, considerando que serviam de “branqueadores” do regime autoritário do país. O empenho de Lewis Hamilton em defender os direitos humanos, bem como o seu apoio a alguns presos políticos do Bahrein, deu-lhes força e mudou-lhes a atitude.

Numa carta que o Instituto para os Direitos e Democracia do Bahrein partilhou com o “The Guardian”, Alhajee escreveu: “A tua genuína preocupação com estes casos mudou a forma como os prisioneiros veem este desporto. És o nosso campeão, não apenas o melhor a pilotar, mas também como ser humano que se preocupa com o sofrimento dos outros. Para mostrar o nosso apoio, um novo fenómeno espalhou-se pela prisão: os detidos começaram a escrever ‘Sir 44’ ou ‘Lewis 44’ nas roupas que usam para assistir à corrida”.

Alhajee afirma ter sido torturado durante o seu interrogatório e sentenciado a 10 anos de prisão por organizar protestos pacíficos em Manama, a capital do Bahrein. “Sou um homem livre, apesar das algemas e das paredes da prisão. O cimento não me impediu de expor os abusos que sofremos cá dentro”, escreveu o prisioneiro a Hamilton.

“Os reclusos veem-te não apenas como um campeão do mundo, mas também como alguém que defende os seus direitos. Eu e os meus companheiros de cela desejamos-te toda a sorte para a corrida no Bahrein. Por favor, lembra-te de que tens fãs na prisão, que vão acompanhar-te e apoiar-te em todas as provas”, escreveu Ali.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos, como o já referido Instituto para os Direitos e Democracia do Bahrein (BIRD), têm exigido que a F1 e a Federação Internacional Automóvel (FIA) ajam no sentido de fazerem a diferença naquele país. Lembre-se que o Bahrein assinou aquele que se crê ser o mais longo contrato na história da Fórmula 1 em relação à organização de Grandes Prémios, até 2036. O BIRD escreveu aos organizadores da F1 questionando a incapacidade de investigarem o impacto das corridas nos direitos humanos.

O BIRD escreveu também a alguns pilotos, como Sebastian Vettel, Max Verstappen, George Russell ou Lando Norris. A organização pediu que estes “tomem uma posição contra a guerra em qualquer lugar”, tendo notado que os protagonistas da F1 se ergueram contra a corrida na Rússia, após a invasão da Ucrânia.

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